domingo, 26 de setembro de 2010

FUNTASTICO











A Mostra Udigrudi de Cinema de Animação completou na semana passada sua oitava edição. Com grandes avanços no que diz respeito aos filmes mostrados e aos encontros proporcionados, o Mumia ganha força no cenário dos festivais brasileiros de cinema. O diferencial é ser especializado em animação em uma cidade onde o público ainda não está tão preparado para ver nesse tipo de cinema mais do que uma diversão infantil. Sávio Leite, diretor de cinema de animação e organizador do Mumia nos fala um pouco da sua paixão pela animação, do seu processo criativo como diretor e, ainda, conta como surgiu e cresceu o Mumia. Além de revelar algumas curiosidades como, por exemplo, o nome do festival: Udigrudi, o quê?
Por Alessandra Duarte, estudante de jornalismo

Uma curiosidade porque a escolha desse nome: Mostra Udigrudi de Mundial de Animação?

A sigla soou perfeito para uma mostra que se pretendia exibir tudo de uma forma democrática e livre, inclusive incentivando realizadores que não tem espaço na maioria dos festivais. Udigrudi veio como uma homenagem a essa expressão alardeada pelos cineastas Rogério Sganzerla e Julio Bressane e sua produtora Belair, que no filme da década de 60, propôs a realização de filmes com baixíssimo orçamento, mas de uma criatividade e liberdade sem limites.

Como começou o Mumia? Quais eram os principais desafios no início?

O Mumia começou em 2003 como uma mostra paralela a 3ª Mostra curta Minas (a Mostra Curta Minas parou nesta edição e o Mumia continuou). Fizemos as primeiras sessões do Mumia no Museu Histórico Abílio Barreto. Neste inicio o principal desafio era exibir filmes internacionais, pois não conhecíamos ninguém de fora. Paralelamente ao Mumia, meus curtas começam a ganhar reconhecimento e serem selecionados em festivais internacionais e os primeiros contatos com os internacionais vieram através do festival internacional de Curtas de são Paulo e da Kinoforum que desde o principio acreditaram no potencial do Mumia como uma mostra diferenciado no calendário de festivais e mostras no Brasil. Desde a primeira edição a mostra resultou um sucesso. Nossa logo concorreu a medalha de Ouro na 7ª Bienal do design Gráfico em São Paulo .

Como surgiu primeiramente seu interesse pelo cinema de animação? A partir disso qual foi seu caminho no estudo e prática desse cinema?

Meu interesse pela animação se deu numa oficina no festival de Inverno da UFMG ministrada pelo animador português Abi Feijó e pelo Alemão Raimmund Krummer em 1995. Ainda estavam presente a animadora portuguesa Regina Pessoa, esposa do Abi e monitora a animadora mineira Tania Anaya. Foi paixão espontânea. Ali vi também a dificuldade que a arte da animação impõe e o trabalho que dá. Depois fiz um curso de pós graduação na UFMG em 1997/1998, onde a intenção era criar uma serie do menino maluquinho em 3D. Tivemos aula com importantes figuras como Renata Pallottini e Joaquim Assis, duas assumidades em dramaturgia e ai o encanto cresceu. Aprendi ver com outros olhos animações que faziam parte da minha infância de uma maneira verdadeiramente subversiva. Em 1998 trabalhei no filme Castelos de Vento da Tânia Anaya onde conheci o animador Clecius Rodrigues, com quem iria realizar minhas primeiras animações.

O tipo de animação que você realiza está longe de ser da ideia tradicional de um simples desenho animado. Na maioria dos filmes há um texto bem escrito que completa a imagem gerando grande impacto sobre o tema abordado. Como se dá seu processo de criação e quais suas influências?

O processo de criação parte de um conceito e os desdobramentos deste conceito. Quero realizar uma serie de animações abordando a mitologia. Para minha surpresa a maioria das pessoas acabam ligando aos nomes dos planetas, o que eu acho ótimo, pois permite uma diversidade de impressões de um mesmo curta. Sempre gostei de um cinema mais solto, independente e subversivo. Minhas primeiras influencias foram o cineasta brasileiro Glauber Rocha e o francês Jean Luc Godard pela forma como tratavam o cinema como uma arte universal capaz de absorver a literatura, a musica a interpretação de uma maneira complexa e misturada. Depois vieram os filmes de Rogério Sganzerla e c cinema surreal de Luis Buñuel. Mas também gosto de um cinema pereccionista como o de Alfred Hitchcock. Em resumo minhas influencia são o cinema de autor. Dos animadores posso citar: Tex Avery, Jan Svankmajer, Len Lye, Wladislaw Starewicz, Normam Mclaren, Matt Groening, Miyazaki.

O curta Terra é uma de suas produções mais elogiadas. Como surgiu a ideia do filme? Qual o método de criação dele?

A ideia surgiu a partir do poema Os Que, de Sérgio Fantini, apresentado pelo próprio autor. Convidei o Sérgio Fantini para escrevermos o roteiro juntos. Tínhamos uma postura bastante surreal e radical em relação ao texto ao tentar propor imagens que estão nas entrelinhas do texto, ou escondidas. Uniu-se ao projeto o designer Denis Leroy que fez o storyboard. De uma certa forma queria retratar o filme através da estética do grafite que creio ser uma arte espontânea também. Com a premiação no edital da Animação da Secretaria do audiovisual montamos uma equipe coerente com essa proposta. Creio que também a narração do Paulo Cesar Pereio foi um acerto.

O Mumia já tem 8 anos de existência, nesse período o que mudou em termos de público e, principalmente, em termos dos filmes de animação?

O público belorizontino é bem arredio e sua fama vai além das montanhas. O publico tem aumentado, mas não é uma coisa que absorve as pessoas e enchem as salas. As pessoas têm muito preconceito de que a Animação é só voltado para crianças. Em termos dos filmes o crescimento é espantoso a ponto das ultimas edições a produção internacional ser maior que a produção nacional. O reconhecimento é que grandes nome da animação já passaram pelo Mumia como: Bill Plympton, Phill Mulloy, Don Hertzfeldt e Osamu Tezuka.

Quais as principais conquistas do festival?

Pertencer ao circuito consolidada das Mostras e Festivais no Brasil
E pertencer ao calendário turístico de Belo Horizonte
Outra conquista é ser convidado por festivais internacionais para realizar mostra de animações brasileiras. Em 2009 estivemos em: Tampere – Finlandia (no maior festival de curtas do norte da Europa – Tampere Film Festival), em Rotterdam – Holanda (Camera Mundo), Em Bogotá – Colombia (El Espejo – Festival Intercional de cortos metrajes y escuelas de cine), Em Santiago – Chile (Feciso – Festival de Cine Social y Antisocial). Em 2010: Trzin – Eslovênia (Fanima Tu) e no Equador (Animec – Festival Internacional de Cine de Animacion).


O cinema de animação é atualmente um pólo em expansão? Como se encontra BH nesse pólo?

O cinema de animação, acredito, vai ter o seu boom logo, logo. Estamos passando pelo boom do documentário, que também era estigmatizado. O cinema de animação cada vez tem tocado em temas pertinentes a sociedade atual sem perder o seu caráter lúdico e de magia. Belo Horizonte é uma cidade privilegiada neste aspecto, pois temos aqui a primeiro e único curso a nível superior de cinema de animação na Escola de Belas artes da UFMG o que contribui não só com produções novas e de qualidade anualmente como a inserção de novos profissionais no mercado.

Confira a animação Plutão no youtube: http://www.youtube.com/watch?v=_g7D31HFis4

Leia também: http://funtastico.otempo.com.br/2010/09/8%C2%AA-mumia/
http://funtastico.otempo.com.br/2010/09/entrevista-savio-leite/