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AGRIDOCE – A BELEZA GENUÍNA EM EDWARD MÃOS DE TESOURA DE TIM BURTON
“Muito do filme é sobre como eu cresci e sobre como muita gente cresceu. Lembro-me de pensar que as casas ficavam perto demais uma das outras, mas havia um estranho sentimento de ‘ o que está acontecendo ali do lado? Recordo-me de que não havia comunicação de verdade, mas se houvesse uma tragédia, um acidente de carro na nossa rua, as pessoas saiam de suas casas e seria como se fosse uma festa no quarteirão. Não é algo com o qual me identifico, esse gosto de sangue; é um jeito de sentir vivo . É muito estranho e engraçado. Eu acho isso fascinante”
A pedido da mostra Jovens Clássicos do Cinema (21 a 31 de julho de 2017) realizado em Belo Horizonte no mês de junho, fui convidado a comentar um dos filmes mais adoráveis de todos os tempos que elevou tanto o nome do diretor Tim Burton quanto do ator Johnny Deep ao estrelato.: Edward Mãos de Tesoura (Edward Scissorhands). Feito em 1990 continua atual nos dias de hoje onde a diversidade conquista cada vez mais espaço na sociedade sem, contudo deixar os conflitos para trás. A cópia exibida em um decente DCP e com legendas simultâneas, além de um espaço recém reformado coloca o Cine Teatro Brasil Vallourec com uma excelente opção no circuito de salas da cidade de Belo Horizonte. Se não fosse os telefones ainda de discagem e as secretarias eletrônicas e o clima retrô moderno a la Jacques Tati. Uma sociedade mecanicamente perfeita, diria até no limite do clichê e as suas micro politicas. Na verdade os conflitos nunca deixaram de existir, mas a ideia de uma sociedade mais igualitária tem avançado e mudado, nem que seja um pouco a sociedade. Um filme onde todas as casas da vizinhança em que Edward (Johnny Deep) passa a morar são exatamente iguais, têm a grama cortada do mesmo jeito, todos os seus moradores têm os mesmos horários e nada muito 'fora da rotina' acontece. O filme ridiculariza a força que as pessoas fazem para serem aceitas pela sociedade, estarem dentro dos padrões de 'normalidade' preestabelecidos por ela, o quanto elas valorizam isso e criticam quem não o faz. Outro ponto retratado também, um pouco exageradamente, é o amor/ódio que a sociedade nutre por quem lança novas modas e quem é diferente. Esse filme funciona com um microcosmo de todo o universo do diretor, tanto das produções anteriores quanto as posteriores onde o humor negro, o bizarro, o cyberpunk, o diferente habitam um mundo onde a ternura e a compaixão falam mais alto. Esse universo poderia causar repulsa a primeira vista, mas funciona ao contrário, da estranheza nasce a beleza mais genuína. Um azedo doce, uma contradição que tende para o bem. As cores são impactantes e suaves ao mesmo tempo, na cidade e na vestimenta das pessoas causam uma combinação ao mesmo tempo limpa e kitsch. Em uma cena simetricamente perfeita vemos os carros saindo de todas as casas, as cores são diferentes de acordo com a casa que o carro sai. Um desvio perfeitamente calculado dessa pequena sociedade padronizada. Em contraste o mundo de Edward é dark, gótico, mesmo que aceito pela sociedade seu estilo permanecerá dark.
Este é o primeiro de oito filmes em que o ator Johnny
Depp e o diretor Tim Burton trabalham juntos; os demais foram Ed Wood (1994), A
Lenda do Cavaleiro sem Cabeça (1999), A Fantástica Fábrica de Chocolate (2005),
A Noiva-Cadáver (2005), Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet (2007),
Alice no País das Maravilhas (2010) e "Sombras da Noite" (2012). Na
vida real, diretor e ator são grandes amigos.
A aparência de Edward foi bastante inspirada em Robert
Smith, vocalista do The Cure, uma das bandas favoritas de Tim Burton. E o
diretor chegou a convidar Smith para compor a trilha sonora do filme, mas ele
recusou, pois o músico estava preparando o álbum Disintegration. Danny Elfman, ex-líder do Oingo Boingo compôs a
trilha-sonora e de quase todos os filmes de Tim Burton. E que trilha que
preenche de uma forma contundente todo o filme. Uma trilha digna das melhores
trilhas de Bernanrd Hermann.
Este foi o último filme de Vincent Price (1911 / 1993),
que morreu três anos depois; curiosamente, o seu personagem morre na sua última
cena. Vicent Price, um dos atores mais
admirados pelo diretor foi personagem de seu curta de estreia Vicent feito em
um impressionante curta em stop motion
e realizado quando o diretor cursava a Cal Arts, uma escola multidisciplinar
criado por Walt Disney (1901 / 1966) na Califórnia. Depois da escola o diretor
foi admitido nos Estúdios Disney e posteriormente demitido por causa de um
gosto um tanto excêntrico. Burton é um cineasta de cinema de animação e sua
cabeça pensa como um cineasta de animação onde à imaginação não tem limite e na
maioria das vezes as historias e os personagens vivem em um outro mundo onde
não existe proibição. Tudo é permitido. No seu caso essa tal liberdade é usada de uma tal
maestria que ele ultrapassa o limite do artista “cult” e suas criações atingem
uma grande parcela da sociedade, rendeu muito dinheiro. Mas a pesar disso e
muita em função do seu pé na horror o diretor tem sido menosprezado aos prêmios
principais do Oscar. Não é fácil ser um outsider.
Neste filme especifico, apesar de ser feito em live action guarda muito dos recursos da
animação nas esculturas que Edward realiza nas plantas, nos cortes de cabelo
das mulheres, no corte dos pelos dos seus respectivos cães e nas esculturas em
gelo que realiza, a magia do cinema esta presente e oculta ao mesmo tempo.
Para o personagem Edward Tom Cruise e Robert Downey Jr.
foram considerados para o papel. Michael Jackson (1958 / 2009) também demonstrou sério
interesse no papel. O cantor comprou as
famosas mãos de tesoura, usadas por Depp no filme, e mais tarde elas foram
postas a venda para um leilão beneficente realizado por Jackson. As mãos de
tesoura utilizadas por Depp no filme foram a leilão no dia 24 de junho de 2009,
um dia antes de sua morte e foram
arrematadas por US$ 16 mil, os organizadores do leilão esperavam arrecadar
apenas US$ 5 mil pelo artefato.
O primeiro papel cinematográfico de Johnny Depp foi no
filme A Hora do Pesadelo. Seu personagem morre retalhado pelas luvas com
lâminas de Freddy Krueger, muito semelhantes às mãos-de-tesoura de Edward.
Tim Burton nomeou Edward devido à semelhança com o nome
Ed Wood (1924 / 1978), cineasta cuja biografia ele filmaria em 1994, com Depp
no papel principal. Ou seja, o universo crossover permanece nas duas obras
O filme é uma fábula moderna, inspirada em antigas
histórias de terror, como Frankenstein, A Bela e o Monstro e O Fantasma da
Ópera, onde as personagens, que como Edward são bondosos e ingênuos, mas a
incompreensão e o preconceito levam os personagens à reclusão e a
comportamentos antissociais, que acabam por reforçar a impressão inicial que
sua aparência causa.
É um dos filmes mais reprisados até hoje pela Rede Globo,
ficando apenas atrás de "Lagoa Azul" e "Ghost" na Sessão da
Tarde. Aos olhares mais atentos 27 anos depois com o personagem da sexy
suburbana Joyce (muito bem interpretada por Kathy Baker), que tenta transar com
Edward e diante da atrapalhada rejeição, passa a demonizá-lo e incentivar que
os outros moradores o rejeitem. Recentemente o filme A lagoa Azul foi
reclassificado no Brasil pelo Ministério da Justiça para maiores de 12 anos por
conter cenas de violência e conteúdo sexual. A inspiração do filme foi o clássico
Cabinet of Dr. Caligari. De Robert Wiene de 1920, um clássico do movimento
expressionista alemão.
Ao longo do filme, as cicatrizes no rosto de Edward
continuam mudando de tamanho e profundidade. Para viver Edward, ele teve que
emagrecer 11 quilos.
O primeiro esboço do filme foi escrito como um musical.
As esculturas gigantes que Edward cria no filme foram
feitas com um corpo de metal e fios. Em seguida, foram colocadas folhas de
plástico. Muitas das esculturas são significativamente mais altas do que os
arbustos originais.
A maquiagem de Johnny Depp levava 1h45 para ficar pronta.
O filme foi gravado nos arredores de Tampa, na Flórida.
Todas as casas do bairro foram pintadas. Durante as filmagens, os moradores
ficaram hospedados em um motel local.
Johnny Depp diz apenas 169 palavras durante todo o filme.
O filme também foi parodiado pelo desenho O Fantástico
Mundo de Bobby, no episódio História de Pescador (Fish Tales), onde o
protagonista conta uma história fantasiosa à sua família na qual Edward era seu
cabeleireiro.
O ator chegou a ficar noivo de Winona Ryder, atriz com
quem formava par no filme. O
relacionamento acabou e ele quis apagar a tatuagem feita para a atriz. O que
antes era Winona Forever, virou Wino Forever (Para sempre bêbado). O ator também namorou por quatro anos a
modelo britânica Kate Moss.
Em Dezembro de 2010, o filme completou vinte anos desde a
sua estreia. Para homenagear e assinalar a data, o artista Sebastien Mesnard
criou o blogue “Scissorhands 20th”. Com a participação de vários outros
profissionais, foram produzidas peças e trabalhos originais de pintura,
escultura, desenho e ilustrações. Trabalhos esses que agora poderão ser vistos
ao vivo, na galeria “Nucleus” em Alhambra, Califórnia.
Por isso tudo o filme é um jovem clássico do cinema e
será assistido por várias gerações com um belo exemplo de romantismo e
esperança por um mundo melhor.
WOODS, Paul A. – O estranho mundo de Tim Burton: São
Paulo, Leya, 2011.
BURTUN, Tim – O triste fim do pequeno menino ostra e
outras histórias: Tradução de Márcio Suzuki.- São Paulo, Girafinha, 2007.
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