1) Qual
sua formação acadêmica e sua história profissional até a sua entrada no Mumia.
Sou formado em Relações Publicas com Mestrado em Artes
Visuais pela UFMG. Quando estava para formar em 1993 fui orientado pela
cineasta Patrícia Moran. Em 1995 através da cineasta Tania Anaya conheci o
cinema de animação por meio de uma oficina de inverno ministrada pelo cineasta
português Abi Feijó e pelo alemão Raymmund Krummer. Foi um amor instantâneo. Em
1998 a UFMG ofereceu um curso de roteiro infanto juvenil para uma futura série
(não concluída) do Menino Maluquinho. Nesse curso a animação me absorveu
profundamente. Já gostava de um cinema mais critico e com a animação pude
perceber que além de critico poderia ser também subversivo.
Comecei no cinema de animação em 2000 com a produção de “ O
vento” (2004) embora dois outros tenham ficado prontos antes: Mirmidões (2001)
e Marte (2003), curtas feitos em parceira com Clécius Rodrigues que conheci na
produção “ Castelos de Vento” (1997)de Tania Anaya, o qual fiz o making of.
2) Descreva
a mostra múmia: história, atuação, resultados dos eventos. Concepção da
produção da mostra.
A MUMIA surgiu em 2003, primeiramente como uma forma de
divertimento e de reunião de amigos e tinha um único lugar de exibição: o Museu
Histórico Abílio Barreto em Belo Horizonte. A MUMIA nasceu também através de
uma revolta contra os poucos festivais de visibilidade que existiam no estado
de Minas Gerais e que pouco exibiam da produção mineira. Primeiramente no MUMIA
exibíamos poucos filmes internacionais. Como eu circulava por festivais
brasileiros e internacionais de cinema por fazer muita troca, pegar muito
material e tomar conhecimento de uma produção pulsante e recente.
A MUMIA desde o inicio aderiu a ideia de não ter seleção e
exibir tudo que nos é enviado. Proposta ousada mas que no decorrer das edições
se revelou uma ideia acertada. Hoje o MUMIA exibe anualmente mais de 200 filmes
de todos os continentes e tem uma competição especifica para produções mineira,
brasileira e internacional. Nossa próxima meta é ter um lugar onde possamos
fazer uma fundação onde guardaremos o acervo e disponibilizaremos uma
biblioteca para consultas e trabalhos acadêmicos, uma sala de projeção e salas
para oficinas. A MUMIA também faz parte do calendário turístico de Belo
Horizonte e pertence ao Guia Kinoforum de festivais brasileiros.
3) Quais
são as suas influências no cinema e no audiovisual? O que normalmente você vê?
Gosto de vários cineastas varia escolas e modos de
pensamentos. Poderia citar: Glauber
Rocha, Jean Luc Godard, Luis Buñuel, Alfred Hitchcock, Martin Scorsese, Francis
Ford Coppola, Rogério Sganzerla, Alejandro Jodorowsky, David Lynch, Stan Brakhage
e Andrei Tarkovsky. Da
animação: Len Lye, Norman MacLaren, ladislau Starewicz, Chuck Jones, Jan Svankmajer,
Osamu Tezuka, Bill Plympton, Matt Groening . Vejo muita animação, mas
outras coisas também. Existe uma produção muito interessante sendo feita em
todos os gêneros. Não considero influencias, mas sim como intercessores que
fazem a vida ser mais palatável.
4) Em
palestras, aulas e eventos que você já participou, qual é a preocupação e busca
mais incessantes de profissionais e pesquisadores que querem se enveredar pela
animação no cinema?
O cinema tem um glamour de riqueza, luxo e ostentação que
seduz muitas pessoas. No cinema de animação existe certo fetiche de como fazer,
o que dizer e de que maneira dizer. Encanto que se quebra invariavelmente
quando se descobre o como fazer. Sua maneira sequencial é lenta de realizar.
Tento demonstrar o quanto gosto e acredito que a animação
que esse querer contagia os alunos. Tento demonstrar que não existe separação
entre o cinema de animação e o cinema com atores reais. Todos estão com o mesmo
objetivo de propagar essa informação, ou mensagem, nem que seja de uma maneira abstrata.
A animação é um terreno fértil e estamos quase chegando ao
seu “boom”. Ainda a animação precisa se livrar do estigma de ser somente
voltada para o publico infantil. Alguns
filmes magistralmente estão passando o contrario. Por ser extremamente lenta de
se fazer, a animação se revela um campo nem tão competitivo assim, bastando a
que se aventura nesse caminho uma grande dose de persistência.
5) Sobre
autores e pesquisadores sobre animação, como você comentaria a pesquisa sobre
animação no Brasil? Temos muito pesquisadores? E publicações? São suficientes?
As pesquisas sobre o cinema de animação no Brasil são
pequenas. Durantes anos apenas existia um livro sobre cinema de animação
escrito pelo professor da UFF, Antonio Moreno chamado: A experiência brasileira
no cinema de animação de 1978. Este livro esta esgotado há anos. Em 2005
tivemos a publicação de Arte da Animação: Técnica e Estética Através da
História de Alberto Lucena, onde conta didaticamente, mas sem ser maçante a
historia e o desenvolvimento do cinema de animação. Recentemente também tivemos
a publicação de dois livros sobre Walt Disney : Walt Disney – o triunfo da
imaginação americana de Neal Gabler e A magia do Império Disney de Gina Nader.
Uma bibliografia em três volumes e em mangá de Osamu Tezuka lançado em 2003. Um
livro sobre a Pixar: A magia da Pixar –
Como Steve Jobs e John Lassester fundaram a maior fábrica de sonhos de todos os
tempos de David A. Price em 2009. Um
livro sobre Tim Burton: O estranho mundo de Tim Burton de Paul A. Woods em
2011. Temos também:
Animation Now de Julius Wiedemann de 2004, Cinema de Animação – um
dialogo ético no mundo encantado das histórias infantis de Carolina Lanner
Fossati, Animaq – almanaque dos desenhos animados de Paulo Gustavo Pereira de 2010, Os Simpsons
e a filosofia de William Irwin, Mark T. Conrad
e Aeon J. Skoble de 2004, A grande arte da luz e da sombra de Laurent Mannoni de 2003, Timing em Animação de John Obe,
Tom sito e Harold Whitaker
de 2012 e Stop-motion de Barry Purves de 2011.
Ainda não é o suficiente, mas é um cenário mais vantajoso do
que muitas décadas anteriores.
6) Como
é a sua outra 'faceta', a de professor universitária no Centro Universitário
UNA? Qual disciplina leciona? A universidade é pra você algo que complementa seu
trabalho de produtor e coordenador da Múmia?
Ser professor é estar num ponto privilegiado para a pesquisa
e o conhecimento. Leciono no Centro Universitário UNA a disciplina de cinema de
animação e disciplinas de Tidir – Trabalhos interdisciplinares, que me dão a
oportunidade de pesquisar outras áreas do saber.
Ser professor me ajuda a ter disciplina e estar em constante
atualização, alem de ter tempo também de continuar realizando filmes.
Como coordenador da MUMIA, tento conscientizar meus alunos
da importância da pesquisa e como usar o blog da mostra como uma referencia de
tudo que acontece em termos de animação no Brasil. Os melhores trabalhos dos
alunos são convidados a serem publicados no blog.
O ensino da animação também pode ser de extrema ajuda para
crianças e jovens inquietos e com dificuldade de concentração. Ajuda a criar e
fortificar valores como a paciência e a persistência.
7) O
que é, basicamente, animação underground, o tema da sua oficina? No que e como
ela se diferencia da animação mais comercial, que vemos, basicamente, na tv e
no cinema hoje?
Boa pergunta. Considero a animação em si um gênero
underground, tratado com menor cuidado e atenção, de difícil apreensão e
critica. Na historia da animação, os grandes autores, sempre trabalharam em uma
escala mais artesanal. Poucos são os que se tornaram industria. Minha duvida
talvez resida no fato da animação sempre ser menosprezada por ser um gênero que
se deu bem com o publico infantil. Por ser sequencial tem um confronto direto
com as artes plásticas. Estaria assim em um “não lugar” até mesmo para os
padrões cinematográficos hegemônicos como a ficção e o documentário. Mas é possível
fazer ficções e documentários usando a animação também. E por ser quase
invisível para a grande maioria das pessoas escondem perolas que tem o
poder de, em poucos minutos, mudar
vidas, tamanha é a magia da animação.
Felizmente a produção animada que chega a TV hoje em dia é
de excelente qualidade. A Tv sempre absorveu o que de melhor se produziu em
termos de animação e hoje com incentivos governamentais estamos vendo bons
exemplos brasileiros como é o caso de: Peixonaustas, Historietas assombradas
(para crianças mal criadas), Anabel, Carrapatos e Catapultas e Meu Amigãozão.
Um panorama inédito na produção brasileira.
Mas é possível estabelecer uma estética underground que
nasce com James Stuart Backton para por Starewicz, Len Lye, Norman Maclaren,
Savnkmajer e reflete nos dias de hoje nos trabalhos de Tim Burton e Michel
Ocelot. Filmes feitos quase artesanalmente que elevam o cinema ao status da
arte. Uma tendência que dialoga com outras varias tendências artísticas seja na
literatura, na dança e na musica.
8) Tendo
como ponto de referência o tema do evento descrito acima, o que você espera
encontrar na III Semana do Audiovisual? Que tipo de aluno ou de mercado de
animação você pensa que existe em Goiás?
Espero encontrar um ambiente favorável e propício a trocas e
intercâmbios. Pessoas curiosas e dispostas a contribuir para a difusão desse
gênero tão peculiar. Sei que em Goiás a discussão sobre mercado e trabalhos
acadêmicos sobre o cinema de animação seja bem menor do que Minas Gerais, visto
que Belo Horizonte foi a primeira capital do país a ter um curso de graduação
em cinema de animação, aliado a critica cinematográfica que é muito forte na
cidade. Este tipo de cinema tem tudo para ser redescoberto pelas novas
gerações. Espero encontrar alunos curiosos e bem animados.
9) O
que você conhece da produção de animação daqui? Alguma informação sobre nomes
de produtores, cineastas? Algum contato anterior com profissionais já feitos
por aqui?
Já exibi alguns trabalhos muito interessantes vindos de
Goiás no MUMIA. Na nossa primeira edição exibimos o trabalho muito interessante
e as vezes polemico de Andre Gavazza com os curtas: One of us cannot of wrong,
Album de recordações e Petit Mort.No 2 MUMIA em 2004 exibimos Carne Seca
(Ricardo Podestá – 2003) e Filme Ilhado(Paulo Guilherme Costa – 2004). O Ricardo de Podestá vai aparecer em outras
edições com trabalhos interessantes como Peixe frito (2005) exibido na MUMIA 5
em 2007 e Destimação (2012) e Tamanduá bandeira (2011) exibidos na MUMIA 10 em
2012. Podemos ver uma linha evolutiva no trabalho do Ricardo. No MUMIA 5
exibimos outro trabalho de um realizador goiano interessante: “Mágoa de
Vaqueiro” (2006) de Dustan Oeven. No MUMIA 6 exibimos 14 Bis (2007) de
Guilherme Gardini. O Ogro de Márcio Júnior e Márcia Deretti ganhou o premio de
Melhor direção de arte no MUMIA 9 em 2011. No MUMIA 10 exibimos: Mostra tua
cara (2010) de Maurélio Toscano de Carvalho e Koboi (2011) de Fabíola Morais
também premiado.
10) Qual
será, basicamente, o teor do sua oficina na III Semana do Audiovisual da UEG?
Uma breve exposição
do desenvolvimento do cinema de animação através da historia por uma ótica
underground, da margem, ate os dias atuais e a conscientização de que o cinema
de animação pode tocar em assuntos pertinentes a sociedade atual.
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