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quarta-feira, 27 de julho de 2022
Animação em Minas Gerais
Animação em Minas Gerais
por Sávio Leite
As primeiras experiências em cinema de animação que se tem
notícia feitas em Minas Gerais remonta ao ano de 1954 com GEOGRAFIA INFANTIL e
ÁGUA LIMPA, ambas do pioneiro Igino Bonfioli (1886/1965), realizadas em
parceria com Fabio Horta, em negativo de nitrato de prata. Em 1958, Bonfioli
volta a experimentar a animação de recortes e figuração com AVEIA QUAKER, uma
peça publicitária. Tem-se notícia de
mais duas animações realizadas por Bonfioli cuja data não se pode precisar, mas
provavelmente feitas entre 1959 e a morte do realizador em 1965: JOÃO VENTURA E
A FERRADURA e JOÃO VITAMINA, EM BARBÃO, O PANCADÃO. Todas as cópias se
encontram no acervo da Escola de Belas Artes da UFMG. Interessante perceber que
a aventura de Bonfioli pelo cinema de animação foi contemporânea da produção do
primeiro longa de animação brasileiro lançado em 1953: SINFONIA AMAZÔNICA, de
Anélio Latini Filho. Uma arte que ainda engatinhava no Brasil e que vai se
revelar de difícil distribuição até os dias atuais.
Na década de 1960 não há registro de nenhuma obra animada
produzida no Estado. No começo da década de 1970 a rede de televisão mineira TV
Itacolomi, Canal 4, realizou algumas animações como vinhetas a cargo de J.J.M
Publicidade. Em 1978, Helvécio Ratton, consagrado realizador de A DANÇA DOS
BONECOS (1986) e O MENINO MALUQUINHO (1995), dentre outras obras realiza uma
experiência única em animação em toda a sua carreira, o elegante e potente
curta CRIAÇÃO (1978), com desenhos em acetato, fotos, um roteiro político,
feito em parceria com Hugo Fausto Prats.
O processo foi, obviamente,
muito trabalhoso, mas gratificante, por ser infinito em possibilidades. Chaplin
já dizia que o verdadeiro cinema estava na animação, que não podia ser limitada
por nada – atores, locações ou estúdios. Em certo sentido, ele foi profético,
já que hoje caminhamos em direção a um cinema que não tem limites justamente em
função da animação. Através dos efeitos visuais (que são uma extensão digital
da técnica), o cineasta coloca o que quiser na tela, de dinossauros a enchentes
– algo que, diga-se de passagem, eu mesmo viria a utilizar no curta O casamento
da Iara, quase trinta anos depois. [1]
Também no final de década de 1970, o artista plástico Ângelo
Marzano realizou filmes experimentais desenhando diretamente na película de
super 8 criando obras como CRIME PASSIONAL E GATUNAGEM de 1975 e 69, UMA
PORNOGRAFIA NACIONAL (1979).
A década de 1980 vai ser a década de criação do curso de cinema de animação da Escola de Belas Artes da UFMG. Através de um convênio com o National Film Board do Canadá, a Escola adquiriu equipamentos e material sensível, o que estimulou a criação de um primeiro núcleo regional de animação, realizando 13 filmes de curtíssima duração como: MU de Tania Anaya e KID KANE de Marta Neves, dentre outros. Na década de 1990 os filmes de Tania Anaya chamam a atenção. BALANÇANDO NA GANGORRA (1992) ganha prêmio no 5th International Animation Festival - HIROSHIMA '94.
CASTELOS DE VENTO (1998) foi um dos quatro curtas mineiros
premiados pelo 1º Concurso de Projetos para Filmes Curtas-Metragens do
Ministério da Cultura, 1997. No filme
vários lugares simbólicos de Belo Horizonte são retratados (Praça da Liberdade,
Viaduto Santa Tereza, Bar do LULU) e
agem como força motriz para a relação de amor entre duas pessoas. O filme
funcionou como um renascimento da produção de animação em Minas Gerais. O curso
de animação, hoje incorporado também com jogos digitais, ainda está em
atividade e é considerado um dos melhores do Brasil.
Já a primeira década dos anos 2000 registrou um número
recorde de 247 curtas metragem produzidos em Minas Gerais. Essa explosão da
produção se deve ao clima político democrata que o Brasil estava
experimentando. Foi a década que surgiram muitos editais e fomentos para a produção.
Foi criada a Associação CURTA MINAS que realizou seu primeiro edital para
produção de curtas. Um dos filmes premiados pelo edital foi a animação O
BLOQUEIO de Claudio Oliveira, baseado no conto homônimo de Murilo Rubião, que
fez uma brilhante carreira em festivais brasileiros e internacionais. Essa
época é marcada pelo surgimento de novos realizadores como Jackson Abacatu,
Leonardo Catapreta, Marcelo Tannure, Ramon Faria, Clécius Rodrigues e Ricardo
Poeira.
A segunda década dos anos 2000 confirma a tendência de
crescimento da arte da animação no Estado de Minas Gerais registrando novo
recorde com 262 curtas realizados. A
animação mineira já é uma produção com reconhecimento em festivais e mostras
importantes como o Festival de Berlim e Annecy. Novos realizadores com novas
temáticas vão surgindo, abrilhantando e diversificando uma arte que é pura
magia e encanto. Experiências inovadoras são criadas como Universidade das
Crianças, uma série animada onde dúvidas de crianças são respondidas de uma
forma lúdica e animada. O projeto pertence à Escola de Belas Artes da UFMG. A
animação se insere também dentro das escolas municipais servindo como
ferramenta de aprendizado. O Grupo Giramundo, com uma longa tradição na
construção de bonecos, também começa a fazer experiência na animação. Giuliana
Danza, Debora Mini e Alexandre Dubiela, dentre outros, vem acrescentar a longa
galeria de animadores formados no Estado.
O futuro da animação mineira está caminhando na realização
de longas metragens. No Estado estão sendo produzidos quatro longas, o que,
dependendo do desempenho deles, alargará o interesse coletivo para essa arte
realizada aqui.
[1] VILLAÇA, Pablo – Helvécio Ratton: O Cinema Além das
Montanhas. São Paulo: Imprensa Oficial do estado de São Paulo: Cultura –
Fundação Padre Anchieta, 2005.
REFERÊNCIAS:
GALDINO, Marcio da Rocha. Minas Gerais Ensaio de
Filmografia. Belo Horizonte: Editora Comunicação, 1983.
GOMES, Paulo Augusto. Pioneiros do Cinema em Minas Gerais.
Belo Horizonte: Crisalida, 2008.
LEITE, Savio (Org.). Subversivos: o Desenvolvimento do
Cinema de Animação em Minas Gerais. Belo Horizonte: Favela É Isso Ai, 2013.
LEITE, Savio (Org.). Maldita Animação Brasileira. Belo
Horizonte: Favela É Isso Ai, 2015.
TAVARES, Mariana Ribeiro, GINO, Mauricio Silva (org.).
Pesquisas em Animação - Cinema & Poéticas Tecnológicas. Belo Horizonte:
Ramalhete, 2019.
terça-feira, 26 de julho de 2022
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sábado, 25 de junho de 2022
DIA GUIMARÃES ROSA - Centro Cultural Brasil-Moçambique
No dia 27 de junho, o Centro Cultural Brasil-Moçambique e o Leitorado Brasileiro comemoram o DIA GUIMARÃES ROSA, evento em homenagem aos 114 anos de nascimento de um dos maiores escritores do século XX, o mineiro João Guimarães Rosa, nascido em Cordisburgo, em 1908, e falecido no Rio de Janeiro, em 1967, aos 59 anos.
Para tanto, preparamos uma programação on-line para lembrarmos juntos esse paradigmático escritor brasileiro, detentor de uma obra ficcional inigualável ambientada no interior de Minas Gerais, como bem apontaram os críticos literários pelos quatro cantos do mundo.
Em 2022, nossa programação focada a novela A HORA E VEZ DE AUGUSTO MATRAGA, presente em “Sagarana” (1946), livro de estreia do escritor brasileiro.
8h – MINUTO DE POESIA: poemas "Romance I" e "Romance II" do livro MAGMA, de Guimarães Rosa.
16h – FILME: “A hora e vez de Augusto Matraga” (2011), de Vinicius Coimbra, 107 min.
Sinopse: Baseado no conto de Guimarães Rosa, o filme conta a história de Augusto Matraga, fazendeiro falido e violento que vive acima da lei no sertão de Minas Gerais. Em dificuldades ele cai numa emboscada que quase o leva à morte. Renascido, Matraga volta-se para a fé e o trabalho árduo em busca de redenção. Anos depois, chega na vila o rei do sertão, Joãozinho Bem-Bem, e seu bando de jagunços. Esta nova amizade atravessará seu destino. Dentro de Matraga, o santo e o guerreiro vão duelar até que chegue sua hora e sua vez.
18h – COMUNICAÇÃO (Live): “Dia Guimarães Rosa: A hora e vez de Augusto Matraga”
O leitor Gustavo Cerqueira conversa com Kaio Carmona, leitor e professor de literatura brasileira na Universidade Agostinho Neto/Angola, e Sávio Leite, professor de cinema no Centro Universitário de Belo Horizonte.