sábado, 24 de junho de 2023

CINE FANTASY - CONEXÃO BH - MUNDO PROIBIDO




Fazer cinema no Brasil é resistência. Fazer um longa brasileiro em animação é uma vitória. “Mundo Proibido” de Alê Camargo e Camila Carrosine une as duas qualidades e comprovam o bom momento da animação brasileira. No filme, três aventureiros espaciais atravessam a galáxia em busca de um tesouro lendário. Fujiwara Manchester (voz de Pierre Bitencourt), Lydia Moshivah (voz de Shallana Costa), com a ajuda de uma jovem especialista em explosivos, a pequena Zi (Giulia Brito) e uma espaçonave inteligente, enfrentarão robôs gigantes, monstros, alienígenas selvagens e trens carnívoros numa perigosa jornada até o Mundo Proibido. Ação, aventura e humor numa ficção científica eletrizante com certo ar nostálgico das melhores produções do passado em ficção científica.

É uma aventura eletrizante que nos remete a clássicos do gênero como “Star Wars”, “Tron”, “2001 Uma odisseia no espaço” e também a Graphic novel como “Incal” de Jodorowsky, Moebius e Ladronn. A abertura feita com desenhos em quadrinhos parece ser uma homenagem ao artista Roy Lichtenstein e prepara o espectador para um filme cheio de rock, aventuras e imagens deliciosamente delirantes. O filme é passado num mundo pós humano, onde os sobreviventes convivem em harmonia com corpos ciborgues e tecnologia avançada. O filme tem um enredo universal, podendo agradar desde jovens até adultos e com um toque sensual bem brasileiro. Um dos aspectos positivos do filme se dá na relação paternal, onde as crianças representam a continuidade da espécie humana e transformem um ambiente árido em uma coisa familiar, cheia de ternura. Experiencia que o próprio casal vivencia no mundo real e que foi transportado para a tela. Outro aspecto positivo do filme é o papel desempenhado por Lydia, uma mulher inteligente, audaciosa, afirmativa sem perder sua sensibilidade pelo mundo ao redor. Aqui temos um casal de protagonistas. 

O casal Ale Camargo e Camila Carrossine já tinham feitos curtas interessantes que rodaram muito em festivais e ganharam prêmios como “A Noite do Vampiro” (2006), “Os anjos no meio da praça” (2010) dentre outros. Desde o início optaram por trabalhar com animação 3D. Uma escolha que, refinada nesse primeiro longa da dupla, transforma o filme em um deleite para os olhos e os sentidos. Mais de 700 cenários foram pintados digitalmente para o filme, e resultado é estonteante. Como disse Camila Carrossine em uma entrevista, o filme ficou com cara de 2D e meio. A trilha sonora está muito bem conectada com o filme, feito por canções inéditas e por perolas garimpadas pelos diretores, como por exemplo, um rap chinês. Também é elegante os créditos finais contribuindo para uma cosmogonia coerente para todo o filme.

O filme realizado com equipe reduzida, a partir do roteiro do próprio diretor e teve uma boa acolhida nos festivais começando pelo prestigiado Festival de Annecy e selecionados em muitos festivais pelo mundo. Recebeu o prêmio de Melhor Longa-metragem no Anima Córdoba na Argentina e Melhor longa pelo Júri popular no CineFantasy no Brasil.

 

Confira abaixo uma pequena entrevista com Sávio Leite

Quanto tempo de produção do longa e os maiores desafios?

Alê Camargo: Foram 3 anos de produção de fato, apesar da ideia ser bem mais antiga que isso. Começamos em 2018 a pré-produção do filme, e o previsto era entregarmos em 2020. Teríamos conseguido, mas aí tivemos março de 2020 e a chegada da pandemia, que pegou o mundo inteiro de surpresa. Tivemos que fechar nosso estúdio físico e adaptar a produção para trabalho remoto sem interromper muito o trabalho que estava sendo feito, e isso foi bem difícil. Áreas importantes da produção, como animação, iluminação/render e composição estavam em vários estágios de desenvolvimento, e coordenar toda a equipe à distância foi bastante complicado. Foi de longe nossa produção mais complexa, e um grande alívio conseguir terminar.

 

Quais foram as referências para a criação de Mundo Proibido?

Alê Camargo: Mundo Proibido se passa no universo de Fujiwara Manchester, um personagem que criei ainda adolescente, nos distantes idos dos anos 80. Sempre fui nerd e tive várias influências: Star Wars e Star Trek, claro, mas também outros filmes e séries menos conhecidos, como Buck Rogers, Flash Gordon, Battlestar Galactica, Buckaroo Banzai e outros. Ao longo dos anos outras referências se somaram a essas, como anime (especialmente os filmes do estúdio Ghibli) e quadrinhos europeus, como as histórias de Moebius, Juan Gimenez e mesmo as aventuras de Asterix, de quem sempre fui um grande fã.

 

 

Porque a escolha do 3D desde o início de vossos filmes?

Alê Camargo: Sempre gostei de animação no geral - 2d tradicional, stop motion, e por aí vai. Tive algumas breves experiências com algumas dessas técnicas. Mas quis o destino que eu começasse a trabalhar com animação na produtora Vetor Zero, uma das pioneiras do 3D aqui no Brasil. Isso foi em 1997, e passei meus primeiros anos de carreira trabalhando com eles, e aprendendo muito. De lá para cá temos feito algumas coisas para expandir nosso arsenal, por assim dizer, e adoraríamos criar filmes em outras técnicas também, se surgir a oportunidade certa.

 

Quais os próximos projetos da produtora?

Alê Camargo: Temos alguns longas, curtas e séries no começo do processo de desenvolvimento. Ainda é cedo para dar detalhes, mas esperamos em breve poder falar mais a respeito.


 

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