Fazer cinema no Brasil é resistência. Fazer um longa
brasileiro em animação é uma vitória. “Mundo Proibido” de Alê Camargo e Camila
Carrosine une as duas qualidades e comprovam o bom momento da animação
brasileira. No filme, três aventureiros espaciais atravessam a galáxia em busca
de um tesouro lendário. Fujiwara Manchester (voz de Pierre Bitencourt), Lydia
Moshivah (voz de Shallana Costa), com a ajuda de uma jovem especialista em explosivos,
a pequena Zi (Giulia Brito) e uma espaçonave inteligente, enfrentarão robôs
gigantes, monstros, alienígenas selvagens e trens carnívoros numa perigosa
jornada até o Mundo Proibido. Ação, aventura e humor numa ficção científica
eletrizante com certo ar nostálgico das melhores produções do passado em ficção
científica.
É uma aventura eletrizante que nos remete a clássicos do
gênero como “Star Wars”, “Tron”, “2001 Uma odisseia no espaço” e também a
Graphic novel como “Incal” de Jodorowsky, Moebius e Ladronn. A abertura feita
com desenhos em quadrinhos parece ser uma homenagem ao artista Roy Lichtenstein
e prepara o espectador para um filme cheio de rock, aventuras e imagens deliciosamente
delirantes. O filme é passado num mundo pós humano, onde os sobreviventes
convivem em harmonia com corpos ciborgues e tecnologia avançada. O filme tem um
enredo universal, podendo agradar desde jovens até adultos e com um toque
sensual bem brasileiro. Um dos aspectos positivos do filme se dá na relação
paternal, onde as crianças representam a continuidade da espécie humana e
transformem um ambiente árido em uma coisa familiar, cheia de ternura.
Experiencia que o próprio casal vivencia no mundo real e que foi transportado
para a tela. Outro aspecto positivo do filme é o papel desempenhado por Lydia,
uma mulher inteligente, audaciosa, afirmativa sem perder sua sensibilidade pelo
mundo ao redor. Aqui temos um casal de protagonistas.
O casal Ale Camargo e Camila Carrossine já tinham feitos
curtas interessantes que rodaram muito em festivais e ganharam prêmios como “A Noite
do Vampiro” (2006), “Os anjos no meio da praça” (2010) dentre outros. Desde o início
optaram por trabalhar com animação 3D. Uma escolha que, refinada nesse primeiro
longa da dupla, transforma o filme em um deleite para os olhos e os sentidos.
Mais de 700 cenários foram pintados digitalmente para o filme, e resultado é
estonteante. Como disse Camila Carrossine em uma entrevista, o filme ficou com
cara de 2D e meio. A trilha sonora está muito bem conectada com o filme, feito
por canções inéditas e por perolas garimpadas pelos diretores, como por
exemplo, um rap chinês. Também é elegante os créditos finais contribuindo para
uma cosmogonia coerente para todo o filme.
O filme realizado com equipe reduzida, a partir do roteiro
do próprio diretor e teve uma boa acolhida nos festivais começando pelo
prestigiado Festival de Annecy e selecionados em muitos festivais pelo mundo.
Recebeu o prêmio de Melhor Longa-metragem no Anima Córdoba na Argentina e Melhor
longa pelo Júri popular no CineFantasy no Brasil.
Confira abaixo uma pequena entrevista com Sávio Leite
Quanto tempo de produção do longa e os maiores desafios?
Alê Camargo: Foram 3 anos de produção de fato, apesar da
ideia ser bem mais antiga que isso. Começamos em 2018 a pré-produção do filme,
e o previsto era entregarmos em 2020. Teríamos conseguido, mas aí tivemos março
de 2020 e a chegada da pandemia, que pegou o mundo inteiro de surpresa. Tivemos
que fechar nosso estúdio físico e adaptar a produção para trabalho remoto sem
interromper muito o trabalho que estava sendo feito, e isso foi bem difícil.
Áreas importantes da produção, como animação, iluminação/render e composição
estavam em vários estágios de desenvolvimento, e coordenar toda a equipe à
distância foi bastante complicado. Foi de longe nossa produção mais complexa, e
um grande alívio conseguir terminar.
Quais foram as referências para a criação de Mundo Proibido?
Alê Camargo: Mundo Proibido se passa no universo de Fujiwara
Manchester, um personagem que criei ainda adolescente, nos distantes idos dos
anos 80. Sempre fui nerd e tive várias influências: Star Wars e Star Trek,
claro, mas também outros filmes e séries menos conhecidos, como Buck Rogers,
Flash Gordon, Battlestar Galactica, Buckaroo Banzai e outros. Ao longo dos anos
outras referências se somaram a essas, como anime (especialmente os filmes do
estúdio Ghibli) e quadrinhos europeus, como as histórias de Moebius, Juan
Gimenez e mesmo as aventuras de Asterix, de quem sempre fui um grande fã.
Porque a escolha do 3D desde o início de vossos filmes?
Alê Camargo: Sempre gostei de animação no geral - 2d
tradicional, stop motion, e por aí vai. Tive algumas breves experiências com
algumas dessas técnicas. Mas quis o destino que eu começasse a trabalhar com
animação na produtora Vetor Zero, uma das pioneiras do 3D aqui no Brasil. Isso
foi em 1997, e passei meus primeiros anos de carreira trabalhando com eles, e
aprendendo muito. De lá para cá temos feito algumas coisas para expandir nosso
arsenal, por assim dizer, e adoraríamos criar filmes em outras técnicas também,
se surgir a oportunidade certa.
Quais os próximos projetos da produtora?
Alê Camargo: Temos alguns longas, curtas e séries no começo
do processo de desenvolvimento. Ainda é cedo para dar detalhes, mas esperamos
em breve poder falar mais a respeito.
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