quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

KOMBUCHA

















Kombucha – 2’17”- Experimental – Bolívia - Brasil – 2009
Direção, fotografia e montagem: Sávio Leite
Música: Pumpy – Mechanics

Um biofilme resultado de uma simbiose complexa entre espécimes de bactérias e leveduras.

A biofilm resulted from a complex symbiosis between bacterias species and yeast.

Seleção:
13a Mostra de Cinema de Tiradentes – MG – 2010 – Brasil
9ª Mostra do Filme Livre – RJ – 2010 – Brasil.
5 FECIS0 - Festival de Cine Social y Antisocial - Santiago - 2010 - Chile
7º EL ESPEJO - Festival Internacional de Cortometrajes y Esculas de Cine – Bogotá – Colômbia – 2010.
IV Mostra Internacional de Curtas Metragens da Unioeste – Toledo – PR - Brasil


algumas consideraçoes:
O LUGAR MAIS SAGRADO DO PLANETA

Toda viagem indica uma transformação. Esta no próprio ato de se deslocar. Mais do que isto, pressupõe a quebra de preconceitos e te proporciona uma forma mais leve de encarar a existência, de viver novas experiências, muitas vezes nascidas de devires que viram a acontecer no improviso, No próprio ato de viver.

O curta KOMBUCHA começa com uma viagem terrestre. De Belo Horizonte no Brasil a Ilha do Sol na Bolívia. A viagem foi feita toda através de ônibus. De Belo Horizonte a São Paulo. De São Paulo para o sul do Brasil, depois cruzando a Argentina até chegar a Santiago no Chile, passando por lugares deslumbrantes na Cordilheira dos Andes.

De Santiago a Iquique, cruzando o deserto de Atacama e cidades mágicas como Tocopylla, cidade natal do inimitável cineasta Alejandro Jodorovsky. De Iquique para Oruru na Bolívia. A viagem para a Bolívia tinha como objetivo conhecer o cineasta, e principalmente os filmes de Jorge Sanjinés.

De Oruru para Cochabamba. Apesar do charme que o nome de Cochabamba evoca, não acostumei com a cidade. Fiquei na casa de dois primos, irmãos, que estudam medicina. Duas noticias me sacudiram em Cochabamba. Primeiro fiquei sabendo que os filmes de Jorge Sanjinés não estavam a venda em lugar nenhum e não poderiam ser assistidos. Terminantemente. Vi outros filmes bolivianos, principalmente Evo Pueblo de Tonchy Antezana, cujo nome verdadeiro é Sérgio. Em Cochambamba andando pelo mercado principal comprei um livro que seria o guia da minha viagem dali por diante: El mensaje secreto de los símbolos de Tiahuanaco y del Lago Titikaka.

Conheci Sérgio Antezana em sua produtora em Cochabamba. Creio que foi uma vista muito peculiar e até hoje nos correspondemos. Sérgio acaba de lançar outro longa “Cemitério de Elefantes”. Uma tarefa árdua já que a Bolivia é um dos países mais pobres e menos desenvolvidos da América Latina. Pobre economicamente porque o país carrega um tesouro arqueológico de mais de 12.000 anos de uma vasta historia e cultura.

A segunda noticia recebi através do MSN do meu sobrinho em Cochabamba informando sobre um acidente com meu único irmão que mora nos EUA. O acidente tinha sido muito grave. Ele já tinha passado por muitas cirurgias e ficaria um bom tempo no hospital.

Com essa noticia resolvi encurtar minha viagem, mesmo conseguindo falar com meu irmão no hospital e ele me tranqüilizando que o risco de morte já tinha passado. Parti para La Paz. Quando cheguei a La Paz reconheci no primeiro passeio pela cidade toda a vida pulsante no meio a muitas cores, cheiros e misturas de pessoas. Mesmo sabendo que o meu intuito era exótico, depois de contactar algumas pessoas que trabalham com cinema na Bolívia, procurei a casa de Jorge Sanjinés. Chegando a sua casa, bati a porta sem resultado.

Resolvi explorar mais um pouco os lugares próximos a La Paz: tomei conhecimento de um passeio a terras do Tihuanaco, um grande sitio arqueológico, composta por um museu e uma cidade que estava aparecendo debaixo das escavações. Algumas habilidades dos Tiahuanaco impressionam como o sistema de áudio e comunicação e suas bela arquitetura. No museu construído ao lado poderiam ver crânios trepanados. Quando os Tiahuanaco percebiam que determinada criança aprendia certas habilidades muito novas, ou mesmo falavam e escreviam antes do tempo, seus cérebros eram expandidos com grandes pregos afim de a massa craniana poder se expandir também. Subimos a um monte onde contava nosso guia que ali era o lugar mais sagrado do planeta e até para ele um típico habitante do lugar, podia sentir as vibrações. Subindo a esse monte tive a certeza que meu irmão dali em diante não morreria e eu poderia ainda curtir o restante da viagem.

Resolvi então conhecer o Lago Titikaka, que há dias povoava a minha imaginação. Uma viagem fantástica. O lago Titicaca é envolvido em muitos mistérios. É um santuário para quem vive de suas águas. A histórica diz que foi um lago desenhado e construído, mas o seu desenho só pode ser visto do espaço: um peixe, um puma e um homem alado. Os separa um cálice telúrico: o vulcão Kjapphia e a cidade encantada de Copacabana. Este desenho considerado “A grande Esfinge Aquática do Titikaka”, são figuras simbólicas que guardam identidade como a ideografia Tiahuanacota. Por esta razão é considerado um lago sagrado. A ilha do sol onde Jorge Sanjinés rodou o seu primeiro filme, UKAMAU localizado em uma das suas margens também é considerado sagrado pela crença popular, pois seria o lugar onde teria aportado a famosa Arca de Noé, que depois se transformou em ouro e prata e depois em pedra. O lago ficaria como prova do maior dilúvio que o Planeta Terra presenciou. Nessa ilha, as pedras parecem pregadas, com desenhos na paisagem que até hoje a geologia não conseguiu explicar completamente. A velha tradição andina dizem que ela é o berço do Império Inca. De toda maneira o Titikaka é considerado o maior lago em altitude do planeta com 8.560 kilometros quadrados, passando pela Bolívia e o Peru. Suas águas exercem o maior facinio por serem tropicais, mas frias. Com uma profundidade de 284 metros é navegável para grandes embarcações. Contém 36 ilhas, sendo a ilha do Sol a mais importante.

De volta a La Paz fui encontrar com um amigo de uma amigo do Brasil, onde tomei na casa dele a Kombucha, um chá, sem propriedades alucinogeneas, mas cujo fabricação remonta há mais de 10.000 anos. Uma bebida de sabor forte e gostosa, mas que me levou para cama no ultimo dia na Bolívia.

Por uma circunstancia do destino fui proibido de embarcar no dia seguinte porque não estava com o meu cartão de vacinação. Nada mal, pois tinha adorado conhecer La Paz. Depois de devidamente vacinado, volto a percorrer as ruas de La Paz andando por caminhos que suspeitava ainda não tivesse caminhado. Não é que parei de novo em frente a casa de Jorge Sanjinés. Não titubiei. Bati na porta e fui atendido pelo seu filho, Mallkus. Expliquei que era brasileiro e que tinha muita curiosidade em conhecer o cinema dele. Para mim surpresa, um grupo de pessoas estava no local e começariam em seguida a ver um filme dele. Pedia com humildade para também assistir. Mallkus foi sondar o grupo e voltou com a resposta afirmativa.

O filme que assitimos foi: El coraje del pueblo, um filme de 1971. Uma verdadeira obra de arte, que deixou a pequena audiência sem palavras. O curta Kombucha é uma homenagem a todos esses eventos extraordinários acontecidos em uma viagem. Acabei comprando um livro chamado: Teoria y práctica de um cine junto al pueblo escrito pelo próprio Jorge Sanjinés y Grupo Ukamau. Toda a cinematografia de Jorge Sanjinés é em prol da preservação da população aymara e falado em quéchua.

Sávio Leite – Janeiro de 2010.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Metamorfose e Risco no Cinema de Sávio Leite

Metamorfose e Risco no cinema de Sávio Leite
Por José Ricardo da C. M. Junior

“O Homem comum é um monstro, um perigoso delinqüente; conformista, colonialista, racista, escravagista!” as palavras de Orson Welles no segmento “A Ricota” dirigido por Pasolini no filme coletivo RoGoPa, guarda semelhanças com o trabalho de Sávio Leite.

Para Sávio Leite parece existir algo de monstruoso na mediocridade. O homem médio se transmuta em animal e o animal se torna humano. É um trabalho altamente sexual, mas não sensual, outra conexão com Pasolini. A metamorfose da qual falo vem do interior dos seres e se expressa no exterior. Ou seja, o grande elemento moldador do indivíduo é seu grau de desespero ou isolamento perante o seu meio social. A monstruosidade e deformações, como no curta metragem “Terra” advém do monstro interno se expressando fisicamente através das linhas.

Neste sentido, o cinema de Sávio Leite possui algo de brutal e melancólico; como se tentasse observar o mundo e exibi-lo como este realmente é por baixo de sua aparência asséptica, mesmo que para isso tenha que abrir mão do “realismo” do traço na animação. Seus filmes parecem buscar por um equilíbrio impossível no universo que se apresenta na tela.

Por linhas, assumo a idéia de traço, aquilo que delimita, controla, organiza.

Uma influência muito marcante em filmes como “Terra” pela fluência das linhas com as quais o diretor trabalha é Emile Cohl. As linhas parecem ter vida, são livres, não busca pelo realismo, mas pelo real por trás do irreal, como se em seus desenhos houvesse algo a ser descoberto. Por não buscar realismo tem-se a abertura para possibilidade de metamorfoses. Este tipo de animação se distingue bastante da chamada animação clássica, da qual um grande nome seria Walt Disney.

Ao contrário do estilo clássico, a linha, organizadora de informação, está no cinema do diretor Sávio Leite, organizando para desorganizar. Em Emile Cohl, vemos mutações de linha que se organizavam, se mutavam para se reorganizar, construindo assim um discurso sobre as possibilidades da animação. Esta idéia persevera em Sávio Leite, a linha em Sávio é a metamorfose. Porém quando esta linha se organiza em imagens compreensíveis na tela, temos uma informação brutal, que de certa forma desorganiza conceitos sociais. Ou seja, através da linha se cria metamorfoses na tela, metamorfoses que deveriam organizar o mundo de forma lógica. Mas o mundo, ao olhar de Sávio Leite, é tão caótico, que ao organizar a linha, um período de transição, se desequilibra ainda mais o espectador.

O fetiche que hoje vemos na animação de formas cada vez mais próximas do real, tentando representar a figura humana de forma mais precisa, perde possibilidades de se criar um universo que representa a existência humana de forma muito mais poderosa, através da força poética da mutação. Mutação constante ininterrupta, o caos de existir. O que estava aqui a um momento atrás e que deixa de ser para se tornar outro. A linha como metamorfose é a própria poesia, pois se torna orgânica é um ser vivo pulsante na tela. O assunto não é apenas o que a linha delimita, mas a própria linha e seus movimentos.

Assim, a questão que se torna óbvia no cinema de Sávio Leite, é de que as linhas delimitadoras, sejam estas sociais, culturais ou humanas são prisões tentando enquadrar todos em seus limites e que apenas através da mutação algo de livre ou libertário pode ser alcançado. Assim, se representa a monstruosidade nas ações humanas, esta, em constante transformação e movimento.

O diretor parece afirmar em sua obra que o olhar humano sobre determinada realidade é desorganizador, pois assim se enxerga a verdadeira natureza de um ser. No curta metragem “Cave, cave Deus Videt”, Sávio Leite nos apresenta uma visão pertubadora de um mundo frio, altamente sexual. Um universo que parece atestar a loucura da existência humana. Neste filme temos a mesma estrutura de se organizar para desorganizar. A câmera passeia pelas linhas do quadro e quando a informação das linhas se faz decodificável, o horror ou a bestialidade da cena cria um desequilíbrio. Como se ao organizar aquela informação, por sua natureza caótica percebêssemos como o mundo é opressivo para aqueles que não se enquadram, e que tentam desesperadamente se enquadrar. Assim, esta obra fala de todos e de ninguém.

O cineasta parece afirmar que há monstruosidade humana esta dentro das linhas. Assim, a linha como agente delimitador de espaços é subvertida pois não consegue alcançar seu princípio básico – o equilíbrio. O interesse aqui não é o equilíbrio, mas exatamente o desequilíbrio. O instante quase mágico de criação no qual a recompensa é o choque.

Já em “Eu sou como o polvo” as primeiras referências que vem à mente são as primeiras obras de Stuart Blacktown e “O Segredo de Picasso” de Henri-Georges Clouzot . O princípio formador da arte é o que fascina. Observar a criação no instante em que esta ocorre. Quase um número de mágica, algo que não existia assume forma e passa a existir. Em “Eu Sou como o Polvo”, vemos a construção de personagem e autor, as influencias se traduzindo em traços.

Curiosamente os autores que Sávio busca retratar parecem ter uma visão de mundo alinhada com a do próprio autor. O desequilíbrio das transformações em um mundo que se metamorfoseia a todo instante engolindo tudo e todos e se alimentando da fragilidade humana, se sustenta.

O principio básico da monstruosidade em Sávio Leite é o humano, o comum e o medíocre, o estagnado. Ao ver obras como Mirmidões temos esta clara noção.

A estética marginal também é muito presente em “Terra” que parece ter saído do caderno escolar de um adolescente durante a aula fazendo desenhos eróticos e caricaturas. Isto amplifica a sensação de isolamento. O autor e público estão ilhados em um universo particular e altamente dramático.

Outra característica que merece menção é a fúria dos traços. No filme já mencionado, “Cave, Cave...”, as obras muitas vezes são riscadas como um artista que criou um universo, e depois, tenta negá-lo. Uma sociedade que produz imagens como estas tem algo de patológica, e através disso podemos observar as contradições internas e a monstruosidade de um mundo gerador do ódio. Um universo que rejeita o outsider, o loser, aquele que não encontra lugar em um mundo que parou de se preocupar com os fracos.

Assim talvez, por isto o homem médio seja o monstro neste cinema, pois este tenta desesperadamente se enquadrar nos limites impostos, e almejar subir na vida dentro das linhas, sendo cuidadoso o suficiente para nunca cruzá-las.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Entrevista Sávio Leite - A arte libertária da Animaçao

Entrevista com Sávio Leite - A arte libertária da animação

Até então rejeitados em Minas, os filmes de Sávio Leite rodam o mundo, da Finlândia à Bósnia-Herzegovina. Animador que desenha mal, Sávio se considera um cineasta que embarca no universo da animação pelo seu "caráter libertário". Agora sua obra começa a despertar interesse em sua própria cidade: foi homenageado esta semana na VII Mostra Minas de Cinema e Vídeo.
Douglas Resende


Seu último filme, "Terra", tem tido uma bela trajetória, que já passou por vários países com prêmios em importantes festivais. Por que você acha que ele deu tão certo?


Esse foi o meu filme que teve mais dinheiro, de um edital da Secretaria do Audiovisual (SAV/MinC). E quando você tem dinheiro (no caso, R$ 60 mil), você tem mais possibilidades de tornar o trabalho mais elaborado. Mas o filme deu tão certo porque todo mundo se identifica com o texto do Sérgio Fantini, que fala sobre coisas que acontecem com qualquer ser humano. E o (ator Paulo César) Pereio se identificou demais com o texto. A voz dele deu superbem no filme. Muita gente acha que o Pereio está em uma de suas melhores fases.


E quanto à estética visual de "Terra"?

Eu queria uma estética do grafite e chamei o Denis Leroy para fazer o story board. O Denis chamou uma turma para ajudar a desenhar - o Binho Barreto, Bruno Galan e o Carlos Dias, do Rio Grande do Sul, cada um desenhando uma sequência. Eu dirigi e escrevi o roteiro, porque, na verdade, meu desenho não é muito bom. E por ter ganhado o prêmio da SAV para produzir, passei a bola pra frente, envolvi mais pessoas no projeto. O desenho sonoro é do Sérgio Scliar, que misturou a música, inspirada numa faixa de "OK Computer" do Radiohead, com a narração do Pereio.


Antes do "Terra" você havia feito "Mercúrio". Tem alguma relação?

Tenho a ideia de fazer vários curtas usando a mitologia grega. Já tenho, além de "Terra" e "Mercúrio", "Plutão" e "Marte". Agora quero fazer "Venus" com um texto da Hilda Hilst, que se chama "Filó, a Fadinha Lésbica".


Outro filme seu muito bem- sucedido é "Eu Sou como o Polvo", um tipo de perfil documental do desenhista Lourenço Mutarelli.

Foi feito no improviso. Fiquei sabendo que o Mutarelli seria homenageado aqui em Belo Horizonte, no Festival Internacional de Quadrinhos (FIQ). Me prontifiquei a buscá-lo no aeroporto, disse que era animador e que queria fazer um filme sobre ele. E o Mutarelli topou. Mas como ele ficou só quatro dias, fizemos no improviso, uma ideia supersimples, mas que rendeu vários frutos e ganhou muitos prêmios. Mas na verdade não adianta ganhar prêmio, ser exibido num festival importante, porque a cada filme é como se você começasse do zero.


No seu modo de fazer animação, você escreve, dirige, mas geralmente não desenha. Como é isso? Você se considera um animador?

Na verdade, me chamo de cineasta. Tem muitas coisas que me atraem na animação: o poder de extrapolar os limites da imaginação, essa alquimia de um monte de desenhos parados ganhar vida. Mas não vou ficar preso só em animação. E quando fui fazer o curso de animação, vi que não precisava ser bom desenhista. Muitos biógrafos do Walt Disney dizem que ele nunca foi um.


Dá para perceber também que, além de envolver outras pessoas no processo, por exemplo o animador Clécius Rodrigues, você desenvolve estratégias alternativas de trabalhar com o desenho.


Descobri que não precisa ser um exímio desenhista. Você pode fazer com gente e coisas reais - o Norman McLaren fez isso muito bem (na técnica chamada pixilation) -, você pode fazer de massinha, recorte, de "n" formas.Um exemplo disso é "Eu Sou como um Polvo", que é como se fosse uma animação em live action, com o desenhista criando o desenho diante da câmera. Exatamente. Inclusive "Eu Sou como o Polvo" ganhou um prêmio de "experimentação técnica em desenho". Eu o considero um vídeo fronteiriço entre a animação e o documentário. Considero esse filme mais experimental por isso: está num não-lugar, pode ser visto como documentário, animação e vídeo-arte. E isso tem muito a ver com o que eu busco no meu trabalho: não ficar no lugar comum. Gosto do deslocamento das pessoas de um universo conhecido para outro, não conhecido, apesar de haver o risco maior de as pessoas não gostarem.


Por que você escolheu a animação?

Em 1998, a Escola de Belas Artes (UFMG) comprou um supercomputador para fazer uma série do Menino Maluquinho e formaram uma turma para desenvolver o roteiro. Ali eu descobri a animação. Eu já gostava de um cinema mais diferenciado, sempre gostei de Glauber Rocha. Quando vi "Terra em Transe" pela primeira vez, tive que parar no meio porque comecei a ter palpitação. E a animação, por mais longe que se tenha chegado, ainda tem um campo muito vasto para se explorar. Em Glauber e no cinema live action, há um limite físico que não dá pra extrapolar. Na animação, vi que dava para trabalhar no limite da imaginação. A animação dá essa liberdade, tem esse caráter libertário, pode-se fazer tudo nela.


Quais são suas principais influências?

As obras que são amargas, mais undergrounds. Posso enumerar várias influências. Principalmente o (Jack) Kerouac. Nasci no mesmo dia do Kerouac. Quando li "On the Road", vi uma obra completamente viva, pulsante. Gosto muito do (Charles) Bukowski, que retrata o submundo e tem uma postura que não é politicamente correta no trato das pessoas e do seu próprio corpo.E no cinema? Tem um cineasta chileno, Alejandro Jodorowsky, que hoje vive na França. Ele veio do teatro de bonecos, trabalhou com o Marcel Marceau e depois foi fazer cinema. Nos anos 1970, fez filmes magistrais, muito místicos. Ele conseguiu fazer animação em live action. Seus filmes são verdadeiros experimentos, de uma criatividade que só se vê no cinema de animação. Trabalhou o sublime e o sagrado. Hoje ele tem um sistema de terapia que se chama psicomagia, partindo da ideia de que a arte tem poder de cura. E tem também o Buñuel e também o Kubrick, que eu gosto pela perfeição no tratamento da linguagem cinematográfica. Outra influência é o Lars Von Trier e o pessoal do Dogma 95.


Você só não citou nenhuma referência em animação...

Só para falar um nome da animação, vou citar o japonês Hayao Miyazaki, um cara que tem demonstrado que animação não é só para o público infantil. Ele conta uma mesma história para uma criança de quatro e um cara de 90 anos de idade.Você também assume o papel de exibidor, com a Mostra Udigrudi Mundial de Animação (Mumia). Isso tem a ver com a dificuldade de exibição dos próprios filmes? O Mumia foi criado com essa intenção de exibir nossos próprios filmes, porque desde que comecei a fazer curta até hoje tenho esse problema. Tenho filmes selecionados em Clermont-Ferrand (o mais importante festival de animação do mundo) e que depois não foram selecionados na Mostra de Tiradentes. Então é muito difícil porque a única janela que temos são os festivais. O Mumia foi criado com esse propósito: já que os festivais daqui não selecionavam nossos filmes, resolvemos criar um festival que não tivesse seleção. Temos três apoiadores fundamentais - o Crav (Centro de Referência do Audiovisual), a Fundação Clóvis Salgado (que cede o Cine Humberto Mauro) e o Festival Internacional de Curtas de São Paulo -, mas não temos patrocínio. E isso acaba sendo coerente com a proposta underground da mostra. O que não quer dizer que nunca vou aceitar um patrocínio.


Publicado em: 07/06/2009 no jornal O Tempo.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

VII MOSTRA MINAS DE CINEMA E VÍDEO


VII MOSTRA MINAS DE CINEMA E VÍDEO
[DE 04 A 06 DE JUNHO DE 2009]

Palácio das Artes
VII Mostra Minas de Cinema e Vídeo 4 a 6 de junho
Cine Humberto Mauro


No início de junho, o Cine Humberto Mauro apresenta a VII Mostra Minas de Cinema e Vídeo. Neste ano, além da mostra competitiva, o realizador Sávio Leite será homenageado com uma mostra dedicada a seus trabalhos. Puderam se inscrever na mostra competitiva, sem restrições de formato, obras audiovisuais nas seguintes categorias: ficção, documentário, vídeo-poema, experimental e animação. Além da competitiva e das mostras Homenagem e Educação, irão acontecer mesas-redondas que discutirão a criação e a pesquisa na produção de vídeo e cinema contemporâneo compostas por realizadores, pesquisadores da história do cinema e de literatura.


04 QUI
19h Abertura + Mostra-Homenagem: Sávio Leite
20h30 Mesa Redonda - Metamorfose e Risco no Cinema de Sávio Leite

05 SEX
19h Mostra Competitiva 1
20h30 Mesa Redonda - Cinema mineiro: desafios e realizações

06 SAB
16h Mostra Educação: Leitura de Telas e Textos
18h Mostra Competitiva II
20h30 Mesa Redonda - Audiovisual e A Educação Contemporânea
21h30 Premiação

VII MOSTRA MINAS: ENTRADA FRANCA COM RETIRADA DE INGRESSOS MEIA HORA ANTES DA SESSÃO

Serviço
Evento: VII Mostra Minas de Cinema e Vídeo
Local: Cine Humberto Mauro
Data: 4 a 6 de junho
Entrada franca com retirada de ingressos meia hora antes da sessão
Balcão de Informações: (31) 3236-7400. O Balcão de Informações funciona de segunda a domingo, das 14h às 21h.


Entrevista com Sávio Leite feita por Nian Pisolato

Conhecido pelo caráter experimental de suas obras, Sávio Leite é uma das referências no cinema de animação mineiro contemporâneo. Sávio já dirigiu dez curtas e participou de diversos festivais de cinema, sendo premiado diversas vezes no Brasil e no exterior. O realizador será homenageado na VII Mostra Minas de Cinema e Vídeo, a ser realizado no dia 04 de junho, no Cine Humberto Mauro. Nesta conversa o realizador fala sobre as produções nacionais e internacionais e sobre o MUMIA – Mostra Udigrudi Mundial de Animação, festival criado por ele, que este ano chega à sétima edição.

Como surgiu essa homenagem que a VII Mostra Minas de Cinema e Vídeo faz a você?
Bem, essa mostra é realizada pela Faculdade de Letras da UFMG, que tem um projeto que se chama A Tela e o Texto, que chega agora na sétima edição. A Maria Antonieta, professora aposentada entrou em contato comigo. Eu, na verdade, sou muito novo para ser homenageado. Embora já tenha mais de 10 curtas, ainda me acho muito novo. Eles então fizeram a seleção de alguns curtas meus, justamente que tem uma relação com a literatura: Eu Sou como o Polvo, que eu fiz com o Lourenço Mutarelli; o outro é o vídeo sobre o artista mineiro Pedro Moraleida, chamado É proibido jogar futebol no adro desta igreja ou o retrato de um artista enquanto jovem diante do século XXI e de tudo mais ou Tratado de dissipação , principio de redução; selecionaram também o Terra, que está sendo um dos meus filmes mais premiados, que trabalha com um poema do escritor mineiro Sérgio Fantini; e escolheram um outro curta, que é o meu primeiro trabalho de animação, de 2004, chamado O Vento.

Sua história é muito ligada à animação. Seu primeiro trabalho já foi nesse formato?
Não. Na verdade eu sou formado em Comunicação Social. Formei em 1993 com 21 anos de idade. E quando eu estava formando eu descobri que queria mexer com cinema. E coincidentemente uma das minhas professoras trabalhava com Cinema, a Patrícia Moran. Ela foi minha orientadora e depois disso eu comecei a fazer alguns curtas, fiz alguns videoclipes. Mas em 1998 fui fazer um curso de animação e então me apaixonei de verdade com animação. Eu sempre gostei de um cinema mais questionador, mais experimental, amo Glauber Rocha, Godard, mas aí eu descobri que animação dava condições de ser muito mais ousado do que cinema de imagem direta. Porque a imagem direta tem uma certa limitação para você fazer determinadas coisas e a animação não. E foi nesse curso que eu descobri a animação, descobri que coisas que eu via na minha infância, que eu fui ver depois de mais de 20 anos, me pareciam super novas ao olhar. Irônico, subversivo, coisas que eu ainda não tinha percebido. E isso é uma coisa que eu sinto na televisão hoje em dia. Esses desenhos de hoje são todos alucinados, então é muita informação que a animação pode dar.

É preciso muitos meios técnicos para se fazer animação?
Tem uma frase do Rosselini que é assim: “O grande erro do pessoal que trabalha com cinema é querer ser muito técnico”. Porque a técnica na verdade é um engano. Em três dias você aprende a fazer. O que ainda vale é uma boa idéia, a técnica fica em segundo plano. E eu acho que até hoje as melhores animações ainda guardam um traço manual. Então, apesar de todo avanço da tecnologia você ainda tem quase o mesmo trabalho de desenhar, de remodelar. Então eu acho que animação tem o poder de usar esse caráter quase artesanal e colocá-lo nas novas tecnologias. Claro que um bom computador, essas mesas digitalizadoras, ajudam muito. Mas ainda hoje é muito valorizado esse processo manual.

E é assim que seus filmes são feitos?
É. Todos eles são feitos de maneira manual.

Como você vê a produção de animação em Belo Horizonte?
BH é uma cidade que tem um dado singular: é a única capital do Brasil que tem um curso de nível superior regular em animação, na Faculdade de Belas Artes da UFMG. Isso permite que a cada ano se produza muito. As duas últimas realizações da EBA foram muito premiadas: O Lúmen e o Moradores do 304. Eu acho que isso é um dado fundamental e bem específico de Minas.

E a produção não acadêmica?
Tem também... e por outro lado a gente está formando aqui a Associação Brasileira de Cinema de Animação, mas a gente está fazendo a nossa parte de Minas Gerais. Temos 15 pessoas nessa associação. Pessoas de Uberlândia, Juiz de Fora... São pessoas que estão produzindo, tem também pessoas mais teóricas, tem blogs de discussão. Porque eu acho que a animação ainda tem que ser descoberta pelo grande público. Já tivemos o boom da ficção, estamos vivendo o boom do documentário, e acho que a próxima onda vai ser animação, que já está começando. Antigamente existia apenas o Disney que fazia os filmes de animação. Ele era um gênio, mas não havia diversidade. Hoje existe. Você vê, por exemplo, o Hayao Miyazaki, no Japão, ganhando o Leão de Ouro em Berlin. E hoje tem a Pixar, a DreamWorks...Acho então que a animação está deixando de ser rotulada pelas pessoas como entretenimento só para crianças.

Cite algumas referências de animação para quem quer conhecer mais sobre animação
Bom, gosto de todos os filmes da Pixar, começando pelo primeiro, Toy Story. Assim como todos os filmes da Disney. Tem um inglês chamado Phil Mulloy que eu também acho boa referência. Gosto também do Chris Cunningham, que fez vários clipes para a Björk. E tem o Michel Gondry, que tem uma veia experimental de animação bem bacana. Outra refrência é o tcheco Jan Svankmajer, que fez Dimensões do Diálogo, que é sensacional. Aqui no Brasil tem o Allan Sieber, todos os filmes dele são legais, tem o Otto Guerra que fez Wood e Stock.

Existe um país onde esteja mais concentrado essa produção independente de animação?
Na França. Outros países que estão produzindo muita animação também é a Coréia e a China. Mas a França é imbatível e tem muita qualidade.

Quais sites você recomenda para quem quer conhecer mais animações?
O www.portacurtas.com.br tem várias animações e curtas brasileiros. Talvez um dos sites mais completos que exista. Outro legal também é o www.curtaocurta.com.br, um site do Rio de Janeiro, bem legal. Tem também o blog do MUMIA (Mostra Udigrudi de Animação), que eu realizo. Lá eu não posto os curtas, mas publico endereços onde as pessoas podem achar. Eu quero que esse blog venha a ser uma referência de animação no Brasil. Desde o ano passado tudo o que é referência de animação, tanto brasileira como internacional, eu publico, para que seja uma fonte de pesquisa. Porque eu acho que falta um estudo teórico sobre animação. Não só sobre animação, mas curta-metragem em geral.

Conte um pouco a trajetória do MUMIA.
O MUMIA foi o segundo festival de animação do Brasil. O primeiro é o Animamundi, que este ano está na 17ª edição. O nosso festival já tem sete anos e começou como uma brincadeira. Quando eu comecei a fazer cinema meus curtas passavam em vários festivais mas não passavam em BH. Aí eu tive a idéia de fazer um festival aqui que não teria seleção, diferente de todos os outros. Então tudo que fosse enviado seria exibido. Meus únicos cortes foram: os trabalhos deveriam ser de animação em até 15 minutos. E ainda hoje não temos seleção. Começamos timidamente então no Museu Histórico Abílio Barreto. E na 3ª Edição, única vez que tivemos algum patrocínio, por meio da Lei Municipal de Cultura, a gente veio para o Cine Humberto Mauro. Trouxemos o Otto Guerra, fizemos uma oficina e o MUMIA começou a ser mais conhecido a partir de então. E hoje o MUMIA faz parte do calendário turístico de BH, faz parte do guia Kinoforum dos festivais do Brasil, tem apoio do Festival Internacional de Curtas de São Paulo. E ao trazer o festival aqui para o Humberto Mauro o público cresceu, porque é uma sala conhecida, respeitada, que traz o cinema distinto para BH. E ainda é uma mostra feita sem patrocínio, só com apoio. E isso não é uma proposta estética, apesar de consolidar a proposta do festival. Mas eu acho que isso acontece porque as pessoas ainda não reconheceram o grande filão que é a animação.

E quais os detalhes que você já pode nos adiantar sobre a edição deste ano?
Esse ano o MUMIA vai acontecer junto com o Dia Internacional da Animação, que é 28 de outubro. Então eu estou tentando criar uma rede para que nesta data vários lugares de Belo Horizonte estejam exibindo animação. Serão 24 horas de animação invadindo a cidade. Sobre filmes que exibiremos, podemos adiantar que vamos abrir a mostra com o curta Hot Gog e o longa Idiots and Angels, ambos do Bill Plympton. Sobre essas referências de animação, talvez o Bill Plympton seja um dos mais famosos, contemporâneo, um cara que produz anualmente. Vamos ter também uma mostra especial de um festival do México chamado Animasivo, uma mostra especial de um realizador português chamado Abi Feijó e uma mostra especial de animações finlandesas. Espero exibir 140 animações no total.


http://fcs.mg.gov.br/conteudos/detalhes.aspx?IdCanal=17&IdMateria=579

http://www.fcs.mg.gov.br/agenda/detalhes.aspx?IdAgenda=1064

terça-feira, 2 de junho de 2009

Critica - Camera Mundo - 2 Festival de Filmes Independentes - Rotterdam - Holanda - Junho 2009



A animação no Brasil tem uma história recente. Embora o primeiro longa-metragem animado feito no país, Sinfonia Amazônica, tenha sido produzido em 1953, a produção de filmes animados ficou praticamente parada até o início dos anos 90, com exceção de alguns trabalhos publicitários.


Animamundi, o primeiro Festival Internacional de filmes e vídeos de animação foi realizado em 1993. O evento foi um divisor de águas para artistas independentes, que pela primeira vez tiveram a oportunidade de divulgar seus trabalhos além de assistir filmes de vários países. Assim, um forte movimento de animadores ganhou força e se consolidou no Brasil.


Vários nomes viriam a se destacar como referencia na animação brasileira, um deles é o do mineiro Sávio Leite. Ainda cursando Comunicação, Sávio já vislumbrava o "ilimitado mundo da animação”, e a partir daí ficou claro para ele qual seria sua forma de expressão artística.
O trabalho desenvolvido por Sávio é de caráter experimental. Trata-se de uma abstração da realidade, um lugar onde a lógica não é necessariamente importante. Tentar entender seus filmes é um erro, pois o propósito se sua arte é extremamente sensorial. “Eu prefiro esse caminho mais arriscado, porque eu acho que esse é o caminho do experimental. Eu acredito em um cinema que tira a pessoa do seu lugar comum. Esse deslocamento é muito interessante no cinema de animação porque ele permite muito mais do que o cinema comum, ele tem essa magia, essa alquimia... é muito especial”, afirma o diretor.



Sávio já dirigiu dez curtas e trabalhou com nomes de peso do cinema brasileiro como Lourenço Mutarelli e César Pereio. Participou de diversos festivais de cinema e foi premiado várias vezes no Brasil e no exterior. “Eu acho muito importante participar de festivais, porque é uma forma de interação muito rica entre cineastas e o público”. No entanto, no começo de sua carreira, os filmes de Sávio não eram bem recebidos nos festivais em Belo Horizonte, sua terra natal, e sua revolta com relação a isso acabou rendendo bons frutos: “Quando eu vi que meu primeiro filme não foi selecionado, e que o segundo filme também não foi, eu disse chega! Vou fazer um festival sem seleção, todo mundo entra!”. Assim nasceu o MUMIA (Mostra Udigrudi Mundial de Animação), a idéia foi um sucesso e o festival já está na sua sexta edição, mantendo firme o propósito de “brincar com o inconsciente coletivo, ou pelo menos recuperar uma centelha da memória cósmica de milhares de vidas conhecidas sobre o planeta”.



Outro ponto importante tanto do festival quanto do trabalho de Sávio é a preocupação em valorizar a diversidade artística e cultural brasileira. “Está acontecendo a favelização do cinema brasileiro, fora do Brasil todos querem conhecer a realidade da favela, que é muito forte aqui. Mas, filmes que ressaltam outro lado do nosso país são importantes. Aqui tem favela, mas também temos muitas outras coisas”, explica Sávio.



Em seu último trabalho, o curta Terra, Sávio contou com a brilhante narração de César Pereio e levou para casa o premio de Melhor Curta de Minas Gerais no Animará, no Festival Internacional de Animação 2008, o Prêmio Especial do Júri no Araribóia Cine 2008 e o Melhor Filme Humano no Festival Internacional de Curtas de São Paulo 2008.

Texto Gustavo Amaral


“Ik geloof in films die je uit de dagelijkse sleur halen”


In Brazilië heeft de animatie een korte geschiedenis. Hoewel de eerste Braziliaanse animatie, Sinfonia Amazônica werd geproduceerd in 1953, was de productie van animatiefilms onderbroken tot begin jaren 90, met uitzondering van een aantal reclamefilms. Animamundi, het eerste Internationale Festival voor film en videoanimatie werd opgericht in 1993. Dit evenement was zeer belangrijk voor onafhankelijke artiesten, die voor het eerst de kans kregen hun werk te tonen, en animaties uit andere landen te zien. Zo heeft zich een sterke groep van animatie artiesten gevormd in Brazilië.


Een aantal van hen werden bekende animators in de Brazilië, waarvan Sávio Leite uit Minas Gerais er één is. Al tijdens zijn studie communicatie keek Sávio op naar de “onbegrensde wereld van de animatie”, en sindsdien was het duidelijk voor hem wat hij met zijn leven wilde doen. Het werk ontwikkeld door Sávio heeft een experimenteel karakter. Het gaat om een abstracte werkelijkheid waarin de logica niet noodzakelijk belangrijk is. Zijn animaities proberen te begrijpen is tijdverspilling omdat zijn werk op het gevoelsleven gericht is.”Ik neem liever risicos, omdat ik geloof in films die je uit de dagelijkse sleur halen. En met animatie kan je je dat permitteren, het is een soort magie.... het is erg speciaal”, zegt de regisseur.


Sávio heeft al tien korte animaties op zijn naam staan en heeft gewerkt met grote namen uit de Braziliaanse filmindustrie zoals Lourenço Mutarelli en César Pereio. Hij heeft deelgenomen aan verschillende film festivals en viel een aantal keer in de prijzen, zowel in Brazilië als in het buitenland. “Ik vind het erg belangrijk om mee te doen aan festivals, omdat er veel interactie is tussen filmmakers en publiek”. Helaas waren zijn animaties niet altijd welkom op de festivals in Belo Horizonte, waar hij vandaan komt. “Toen mijn eerste film niet werd geselecteerd, en mijn tweede film ook niet, dacht ik: ik ga een animatiefestival organiseren zonder selectiecriteria, iedereen mag mee doen!”.


Zo ontstond Mostra MUMIA, een internationaal animatiefestival. Het werd een succes, en de wens van Leite om de Braziliaanse artistieke en culturele diversiteit te onderstrepen is werkelijkheid geworden. “De Braziliaanse filmindustrie ondergaat een proces van ‘favelisatie’ – buiten Brazilië wil iedereen films uit de favelas zien. Maar films die andere aspecten laten zien zijn erg belangrijk. Natuurlijk zijn er favelas hier, maar ook veel andere dingen.” zegt Sávio. Zijn nieuwste werk, Terra, won de prijs Beste Korte Film van Minas Gerais op de Animará, de Speciale Jury Prijs van Araribóia Cine én de Beste Filme Humano op het Internationale Festival voor de Korte Film in São Paulo in 2008. Sávio Leite is aanwezig voor Q&A.


Tekst: : Gustavo Amaral



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segunda-feira, 4 de maio de 2009

TERRA - 5' - 2008

Terra from leroy studio on Vimeo.






Terra
Animação - 5´- MG - 2008

Coisas ordinárias acontecem com pessoas extraordinárias

Ordinary things happen to extraordinary people.

Cosas extraordinarias les ocurren a personas ordinarias.

Direção: Sávio Leite
Elenco: Ezequias Marques e Paulo César Pereio
Texto original: Sérgio Fantini
Roteiro: Sérgio Fantini e Sávio Leite
Produção executiva: Alexandre Pimenta
Produção Artistica: Leroy Studio
Direção de arte: Denis Leroy
Assistente de arte: Leonardo Cezário e Sílvia Neves
Montagem: Henner Coelho Figueiredo
Animadores: Binho Barreto, Bruno Galan, Carlos Dias e Denis Leroy
Trilha sonora: Fusile
Mixagem e desenho sonoro: Sérgio Scliar



Seleção:
- II Festival de Cine Social y Antisocial de La Pintana – Santiago – Chile – 2008.
- V Festival Internacional de Cortometrajes y Escuelas de Cine – El Espejo - Bogotá – Colômbia – 2008.
- 16° Festival Internacional de Cortometrajes de Santiago – Chile – 2008.
- Cero Latitud – 6° Festival de Cine de Quito – Ecuador – 2008
- 30° Festival Internacional del Nuevo Cine Latinoamericano de Havana – Cuba – 2008.
- FENAVID – Festival Internacional de Vídeo – Santa Cruz de la Sierra - Bolívia – 2008.
- V Festival Internacional de Cortometrajes de Cusco - FENACO - Peru – 2008.
- 31th Clermont-Ferrand Short Film Festival – França – 2009.
-12° Festival de Cinema Luso Brasileiro de Santa Maria da Feira – Portugal – 2008.
- Los Angeles Brazilian Film Festival – USA – 2009.
-39th Tampere International Film Festival – Finlândia – 2009.
-Annecy 2009 – Festival Internacional do Filme de animação – França – 2009.
- CAMERA MUNDO – 2º Festival de Filmes independentes – Rotterdam – Holanda – 2009.
- 2nd Brazilian Film Festival of Vancouver - Canadá - 2009.
- Signes de Nuit – Festival Internacional de Création Audiovisuelle et Cinématographique – Paris – França – 2009.
-Festival CINE / B – Santiago – Chile – 2009.
-CORTOCIRCUITO – Festival Internacional de cortometrajes – Santiago de Compostela – Espanha – 2009.
- ANIM’EST – International Animation Film Festival – Bucharest – Romênia – 2009.
- 15o Encounters Short Film Festival – Bristol – UK – 2009.
- Muestra de Cine Iberoamericano – Ibertigo – Las Palmas de Gran Canaria – Espanha – 2009.
- IMAGO Film Festival – Fundão – Portugal – 2009.
- XIII Festival Internacional de Cortometrajes La Boca Del Lobo - Espanha - 2009
- Festival Andino de Cine en Ibague - Colombia - 2009.
- VI Festival de Cine Joven de Rengo - Chile - 2010.
- VIDEOEX Experimental Film & Video Festival - Zurich Switzerland - 2010.




- 11° FAM – Festival Audiovisual Mercosul – Florianópolis – SC – Brasil - 2008
- 19° Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo – Brasil -2008.
- 4a Mostra de Cinema de Ourinhos – SP – Brasil - 2008.
- 9º Festival de Penedo - AL – Brasil - 2008
- Animará - Festival Internacional de Animação – Sabará – MG – Brasil - 2008.
- 8° Goiânia Mostra Curtas – GO – Brasil – 2008
-CineEsquemaNovo – Festival de Cinema de Porto Alegre – Brasil – 2008.
- 5° Curta Votorantim – São Paulo – Brasil – 2008.
-3° GRANIMADO - Festival de Animação de Gramado – Brasil – 2008.
-Curta Cinema 2008 – Festival Internacional de Curtas metragens do Rio de Janeiro – Brasil.
- 10a Mostra Londrina de Cinema – Brasil – 2008.
- 5° Amazonas Film Festival – Brasil – 2008.
- Jornada Internacional de Cinema do Recife - Brasil - 2008.
- Mostra CINE BH – 2008 – Brasil
- 15° Vitória Cine Vídeo – 2008 – Brasil
- VII Araribóia Cine - Festival de Cinema de Niterói – Brasil – 2008.
- 16° FESTVÌDEO – Festival Nacional de Vídeo de Teresina – PI – Brasil - 2008
- 1 Festival do Juri Popular – 19 capitais brasileiras – Brasil – 2009.
- 9ª Mostra do Filme Livre – Rio de Janiero – Brasil – 2009.
-4ª Mostra Felco – Festival Latinoamericano da Classe Obrera – Belo Horizonte – Brasil – 2009. -4º Locomotiva – Festival Nacional de Animação – Garibaldi/RS – 2009.
-4º CINEPORT – Festival de Cinema de Países de Língua Portuguesa – João Pessoa – Brasil – 2009.
- 17 ANIMA MUNDI - Festival Internacional de Animação do Brasil - 2009.
-4º CINE OP – 4ª Mostra de Cinema de Ouro Preto – MG – Brasil – 2009.
- Curta-se – 9º Festival Ibero-americano de Cinema de Sergipe – Brasil – 2009.
- INDIE 2009 - MOSTRA DE CINEMA MUNDIAL - Cinema de Garagem - Belo Horizonte - Brasil - 2009.
- 4ª Mostra de Cinema e Vídeo de Miracema - TO - Brasil - 2009
- V Ibero Brasil Cine Festival – Rio de Janeiro – Brasil – 2009.
-19º Cine Ceará – Fortaleza – Brasil – 2009.
- COMUNICURTAS – Festival de Cinema de Campina Grande – PB – 2009.
- Festival Maranhão em Tela – Brasil – 2009
- 11º Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte – Brasil – 2009.



Prêmios e distinções:
- Melhor Filme Humano - Cachaça Cinema Clube - 19° Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo – 2008.
- Melhor Curta Mineiro - Festival Internacional de Cinema de Animação - Sabará - MG - Brasil - 2008.
- Prêmio Especial do Júri - VII Araribóia Cine - Festival de Cinema de Niterói – Brasil – 2008.
- Menção Honrosa - 9ª Mostra do Filme Livre – Rio de Janiero – Brasil – 2009.
- Finalista do Grande Prêmio Vivo do Cinema Brasileiro – Academia Brasileira de Cinema – 2009.
- Prêmio Originalidade - 4º Locomotiva – Festival Nacional de Animação – Garibaldi/RS – 2009.
- Indicado ao 14º Prêmio SESC/SATED como melhor curta metragem – Belo Horizonte – Brasil - 2009.
-Melhor animação - Festival do Juri Popular - 2009.
- Melhor Animação - 4º CINEPORT – Festival de Cinema de Países de Língua Portuguesa – João Pessoa – Brasil – 2009.
- Menção Honrosa – - COMUNICURTAS – Festival de Cinema de Campina Grande – PB – 2009.

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CRITICAS

Os curtas em Santa Maria da Feira – Portugal – 29 de novembro a 07 de dezembro.

Sávio Leite está se tornando um dos reis das animações fora dos padrões comportados – de história e de modelo adotado. Nesse “Terra” ele despeja na banda sonora um monte de considerações sobre comportamento e atitudes individuais, bastante pertinentes, tanto quanto de evidente cunho de observação pessoal do mundo. Tudo feito com ritmo contínuo, sem pausas entre uma observação e outra, e “coreografado” por belas seqüências de desenhos feitos lápis colorido sobre papel (desenhos bem bons, criativos, e ajuntados em edição bastante competente – como é o comum em obras dele). O que mais impressiona é a quantidade filmes que ele lança na praça, e sempre com qualidade acima da média.

Por Cid Nader

http://www.cinequanon.art.br/curtaoblog/?p=36

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TERRA por Gabriel Martins

Em sua obra anterior, Mercúrio, Sávio Leite não me convenceu. Por mais que contenha uma idéia de expressão marginal de animação, o filme não era o bastante para poder provocar algo além da pura experiência visual. Já este novo, Terra, me pegou. Se a proposta de retratar os planetas (presentes como títulos de outras obras do realizador) nos possibilita vislumbrar a alguma alusão ou referência, pode-se dizer que uma animação conturbada e caótica como esta consegue compactar algum tipo de experiência possível de ser filosofada sobre o nosso planeta. Narrada de forma instigante por Paulo César Peréio, a animação ainda se utiliza de uma trilha tensa (Fusile) que nos coloca o tempo todo na vertigem da animação ali feita. A sensação é a de um caderno com desenhos sobre desenhos, a de complementaridade do traço ao mesmo tempo em que este próprio é subvertido em uma animação que não necessita de qualquer esclarecimento contextual: ela simplesmente existe. No todo, Terra propõe uma aproximação da realização da obra que nos traz a ausência de um começo e de um fim, como se o processo fosse eterno. E com isso, o nome “Terra” se encontra devidamente apropriado, titulando uma representação que, acima de tudo, propõe uma constante soma de traços e idéias - sendo que as idéias são, na verdade, os próprios traços.

http://www.filmespolvo.com.br/site/eventos/cobertura/428

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31 Festival Internacional de Clermont Ferrand (em francês e Português)

Terra de Savio Leite (Brésil – L-2)
Tropical surréalisme
Surrealismo tropical





Terra est une oeuvre étrange, suite de croquis furieux, s’interrogeant surle sens de la vie au fil d’un texte envoûtant.



Terra é uma obra estranha, com uma seqüência de desenhos furiosos, se interrogando sobre o sentido da vida ao fio de um texto envolvente.



Entretien avec…Savio Leite : Terra fait partie d’une série d’animation où je revisite plusieursdieux de la mythologie. J’ai déjà tourné Pluton, Mercure et Mars. Terra prendcomme sujet les comportements individuels. Le texte est lu en rythmecontinu, sans pause, sur des séquences dessinées au crayon. J’ai vouludonner la sensation que l’on feuillette un carnet de croquis.








"Terra" faz parte de uma serie onde revisito vários deuses da mitologia ( já tenho Plutão, Mercúrio e Marte em animação) e curiosamente as pessoas confundem com os planetas,que eu acho ótimo por permite ainda mais interpretações.Terra faz considerações sobre comportamentos e atitudes individuais, bastante pertinentes, em um ritmo continuo, sem pausas, "coreografados" por seqüências de desenhos a lápis de forma a criar uma sensação de um caderno de desenhos sobre desenhos como um processo que se pretende eterno.





Le texte est très beau, avec son humour noir et absurde.Il s’agit d’un texte original écrit par Sérgio Fantini, un écrivain de BeloHorizonte, ma ville natale. Nous l’avons conçu dans un esprit surréaliste,pour qu’il soit propice à faire naître des images.





O texto é muito bonito, com seu humor negro e absurso. O texto original é de um escritor da minha cidade, Belo Horizonte, chamado Sérgio Fantini. A escritura do roteiro foi feito em conjunto com ele. Tínhamos um espírito bastante surreal durante a escritura, imaginando o que poderia ser mostrado na imagem que não continha no texto.





Certains dessins évoquent Basquiat, était-ce une de vos références ?Comme les graffitis sont la grande référence visuelle du film, je ne suispas surpris par votre allusion à Basquiat. Je considère les graffitis commeun art d’une grande diversité. L’autre grande influence provient d’un filmproduit à Belo Horizonte en 1971, l’année de ma naissance : Bang Bangde Andréa Tonacci, un chef d’oeuvre du cinéma marginal. Le texte de Terraest lu par Paulo César Pereio, une icone du cinéma indépendant brésilien,et par Ezequias Marques, un célèbre acteur de Belo Horizonte.





A grande influencia dos desenhos são os grafite de rua, por isso não me espanta você ter citado Basquiat. Creio que o grafite possui uma extraordinária diversidade artística. Outra grande influencia foi o longa metragem produzido em Belo Horizonte, em 1971, ano em que nasci chamado "Bang Bang", de Andréa Tonacci, antológica obra do cinema marginal brasileiro. O Texto de Terra foi narrado por Paulo César Pereio, famoso ator brasileiro, ícone do cinema marginal no Brasil e Ezequais Marques, veterano ator de Belo Horizonte.

Propos recueillis par Stéphane du Mesnildot
http://www.clermont-filmfest.com/01_festival/12_quotidien/img_commun/mercredi4.pdf

PRIMEIROS TRABALHOS - VIDEOCLIPES



A TERRIVEL VINGANÇA - Sávio Leite - 3'- 1994




Video clip de animação da banda de Psychobilly mineira Os Baratas Tontas com a perfomance de Kátia Flavia. Filmado no SQUAT, lendaria casa noturna de Belo Horizonte que trouxe no final da decada de 80 e principios de 90, o melhor do underground brasileiro. Tocaram la Chico Science, Pato Fu, Virna Lisi, Chemako, Okoto, Cidade Negra, etc...







REREZAMN - Sávio Leite - 4´- 1995



REREZAMN mostra imagens livres olhando o mundo exterior sem se importar com ele; ao mesmo tempo mostrando uma forte hostilidade aos valores estabelecidos. Afirma a realidade de cada momento com um espirito irracional que exclui qualquer forma de intenção estética. É projetar-se no vácuo do saco de café. Videoclipe para a banda Holocausto de Belo Horizonte.





THE UNSPOKEN NAME OF DEATH - Sávio Leite - 2´- 1996


Videoclipe para banda Vultur ( André Cabelo - Guitarra e vocal, Sandro - Baixo - Alexandre Bonfim - Teclados e Nilson na Bateria)Imgens gravadas em Hi8, no lixão de Contagem - MG, entre julho e agosto de 1995 e ditada em 1996 em ilha S-VHS de Adriano Nery.




Anti - Sávio Leite - 4'- 2008

Videoclipe para Digitaria - www.digitariamusic.com.br

O curta pode ser visto em:

É proibido jogar futebol no adro desta igreja ou o retrato de um artista enquanto jovem diante do século XXI e de tudo mais ou Tratado de dissip...



É proibido jogar futebol no adro desta igreja ou
o retrato de um artista enquanto jovem diante do século XXI e de tudo mais ou Tratado de dissipação , principio de redução

Um Filme de Sávio Leite
39 min. Documentário – BH – Cor – 2004

Sinopse:
Documentário sobre a obra de Pedro Moraleida Bernardes. Expoente da arte mineira nos anos 90. Morto aos 22 anos em 1999. Retrata com sensibilidade e rigor a visão crítica e ácida do mundo através de figuras como: Homens-sexo, mulheres-pênis, homens fendidos, línguas, vômitos, costelas, Ave Maria. Para tal a artista utiliza com maestria várias técnicas de expressão: colagens, pinturas, desenhos, esculturas, serigrafias, músicas, escritos. Desenhos de despojos orgânicos iluminam textos, mostram a nudez psíquica no tegumento corpóreo e espalham farelos de existência.




It is prohibited to play soccer in the parvis of this church or
the picture of an artist while young facing the XXI Century and everything more or the treaty of dissipation, the principle of reduction.
Documentary about the masterpiece of Pedro Maraleida Bernardes. Exponent of the “mineira” art of the 90s. Died in 1999 when he was 22 years of age. Portrayed with sensibility and rigor a critical and acidic vision of the world through use of figures like: men-sex, women-penis, offended men, languages, vomits, ribs, Holy Mothers. For that the artist uses different master techniques such as: collages, paintings, drawings, sculptures, stencils, music, writings. Drawings of organic debris lighten texts, showing the psychic nudity in the corporal integument and spread the crumbs of the existence.

Seleção:
Forum.Doc 2004 – 8o Festival do Filme Documentário e Etnográfico – Fórum de Antropologia, Cinema e Vídeo – MG
6º Mostra do Filme Livre – Rio de Janeiro – 2006
Ciclo de Cine Social – Comuna Cerro Navia – Santiago de Chile - 2007.
El Espejo – V Festival Internacional de Cortos y Escuelas de Cine – Bogotá – Colômbia – 2008.
CRITICAS:
EX-VOTO MORAL – ISSO É CINEMA

CAVE, CAVE, DEUS VIDET - Deus tudo vê.

Se o artista enxerga o olho de Deus de forma aguda, onisciente, creio que é para Ele que dedica sua arte. Por Ele, n´Ele, com Ele, na única unidade possível, da Arte. O labor do artista plástico Pedro Moraleida, morto aos 22 anos, em 1999, tornou-se trabalho – na acepção da palavra – quando finalmente ficou pronto o vídeo sobre sua obra. “É proibido jogar futebol no adro desta igreja” documentário que mostra os desenhos, pinturas, esculturas e poemas, que creio, não foram realizados para os mortais ou para o comércio. De súbito somos invadidos pela exposição vívida de suas pinturas e a sensação é de estarmos num retábulo, ou numa sala de ex-votos, diante de insígnias, inscrições, corpos, órgãos que embora sejam, em sua maioria, feitos a lápis ou em acrílica, poderiam ser de cera ou madeira.

Indigestas, as cenas se sucedem e o sentimento é de resignação à beleza, às composições e decomposições cabais. É como se suportássemos junto com Pedro o olhar de Deus e, assim, fizéssemos parte de sua triangulação.

Sávio Leite, diretor, nos convida a penetrar no mundo sacrílego e santo, moral e amoral de Moraleida, encadeando imagens (de vídeo), com o substrato do cinema, utilizando os recursos da modernidade visual que tudo engole - convidando-nos a exercitar a recente capacidade bulímica - de tudo olhar/comer -, hiperfágica. O cineasta “expõe” Pedro em instantâneos hipnóticos que nos privam da liberdade de distanciamento ou de desenvolver pontos de vista. A integração das cenas com os textos e sons é vertiginosa, costurada pela estética ora da cor, da música, ora norteada pela sensibilidade do diretor. O que não as torna mais fáceis. Parece que o encadeamento foi feito a quatro mãos, com a participação de Pedro, agora, do alto do olho que tudo vê.

A captura do olhar, o convencimento da leitura, o enredo estilístico ao mesmo tempo moderno e exuberante, chega enxuto à tela, amparado por um horizonte barroco de “frames” e temas circulares, recorrentes, que induzem à perda da perspectiva. A idéia foi mostrar as possibilidades de deslocamento da imagem, dos rumores e do sentido em todos os rumos, provavelmente como desejaria o artista - vertiginar o espectador.

Ninguém sai indiferente, parece que jogamos várias peladas no adro dessa Igreja. Para mim, no final, os muitos Pedros ficaram girando em sua sinestesia desconcertante.

Creio que o grande legado de Pedro Moraleida foi apontar, com sua vida curta e cromática, a nossa possibilidade mítica de êxtase, e que somos todos, frente à crueza da arte, instáveis, passíveis de desorganizações e distorções da nossa percepção, até da personalidade (ainda que momentaneamente), quer dizer passíveis de sermos neurotizados, ou seja, modernos. Ainda bem.

Beatriz Goulart Marques.

INEXATO









INEXATO
Direção: Sávio Leite – 9´- Vídeo dança – BH – cor – 2003
Com: Simone Ferreira e Gustavo Schettino
Música: Sérgio Scliar

Sinopse
Uma seqüência de movimentos corporais que se espraia por um vão urbano. Bailado infrequente como as luzes da cidade, plena de faróis e anúncios luminosos, movimentos nem sempre sincronizados da urbanidade. Uma dança insólita, quebrada, como as construções de prédios, ruas e avenidas que, paradoxalmente, já não acolhem nosso corpo de baile.


INACCURATE
A sequence of body movements that is spread over City niche. Infrequent dance like the city lights, full of traffic movements that are not always synchronized. An unusual dance, broken like the constructions of buildings, streets and avnues that, paradoxically, don´t shelter anumore our dance group.


Una secuencia de movimientos corporales que esplayase por un vacío urbano. Bailado infrecuente como las luces de la ciudad, llena de faroles y anuncios luminosos, movimientos no siempre sincronizados de la urbanidad. Una danza insólita, quebrada, como las construcciones de edficios, calles y avenidas que, paradojalmente, ya no acogen nuestro cuerpo de danza.



Seleção
6o Festival Internacional de Curtas Metragens de Belo Horizonte – 2004.
3o NÓIA - Festival Sul-americano do Audiovisual Universitário – CE – 2004.
8a Mostra de Cinema de Tiradentes – MG – 2005.
Dança em Pauta – Mostra Audiovisual – São Paulo – 2005.
Move Festival Tapias de Vídeo Dança do Rio de Janeiro - 2005
FRAME 2005 – Festival Internacional de Vídeo Dança do Porto / Portugal – 2005.
Mostra Imagens dos Povos – Ouro Preto / MG – 2005.
Mostra do Filme Livre do Rio de Janeiro - 2006
Cortocircuito - Festival Loop `07 – Barcelona - Espanha

domingo, 3 de maio de 2009

O VENTO



O VENTO
8´30" min. - 35 mm - Animação - desenho sobre papel – colorido – 2004.

Sinopse:
Em um tradicional bairro de Belo Horizonte, o vento vai passando e atrapalhando a vida dos moradores, até o momento em que ele resolve aprontar com o sacristão da igreja. Embora o vento seja uma força sobrenatural e faça de tudo para infernizar o sacristão, este conta com uma ajuda divina.

En un tradicional barrio de Belo Horizonte, el viento va pasando y desarreglando la vida de los habitantes, hasta el momento em que el decide molestar el monaquilho de la iglesia. Aunque el viento sea uma fuerza sobrenatural y haga todo para molestar el monaquilho éste cuenta com uma ayuda divina.

Á Belo Horizonte, dans um traditionnel quartier de la ville, le vent passe et gêne la vie des gens, jusqu´au oú decide to tourmenter le sacristain de l´eglise En dépit du fait que le vent est une force surnaturelle et qu´il peut pour faire que la vie du sacristain devienne um enfer, celui-ci sur l´aided divin.

In a traditional town within Belo Horizonte, the wind passes and confuses the lives of the inhabitants, until a moment when the wind decides to confuse the choirboy of the church. Even though the wind is a supernatural force and does everything to confuse the choirboy, he counts on divine help.


Direção: Sávio Leite
Roteiro: Sávio Leite, Marco Anacleto, Ângela G. Faria
Consultoria Roteiro: Joaquim Assis
Storyboard: Sérgio Vilaça
Animação, cenários e Arte final: Maurício Gino, Sérgio Vilaça
Edição: Maurício Gino, Sávio Leite
Trilha sonora: pexbaA


Seleção:
INTERNACIONAIS:
- II Festival Nacional y Muestra Internacional de Cortometrajes Cusco – 2005 – Peru
-27 Festival Internacional del Nuevo Cine Latinoamericano – Havana / Cuba – 2005
- Videolab Coimbra 2005 - Mostra Internacional de Vídeo, Super 8, Instalações, workshops – Portugal
-Mostra Brasileira – Festival de Cinema de Contis / França – 2006.
- XXIII Festival de Cine de Bogotá – Colômbia – 2006
- IV Muestra de Nuevo Cine Iberamericano – Las Palmas de Gran Canária – 2006.
- International Festival of Cinema and Technology – Florida – EUA 2007.
- Festival de Cine Social de La Pintana - Santiago de Chile - 2007.



NACIONAIS:
- 7a Mostra de Cinema de Tiradentes – MG – 2004
- XXXI Jornada Internacional de Cinema da Bahia – 2004
- MAPA-PIÁ 2004 - Mostra Audiovisual Paraná Para Infância e Adolescência – Londrina /PA.
- 2o Festival de Cinema de Campo Grande / MS – 2005.
- CINE PE – Festival do Audiovisual – Recife / PE – 2005.
- Finalista Grande Prêmio TAM do Cinema Brasileiro / Academia Brasileira de Cinema / 2005.
- Festival Curta Natal – RN – 2005.
- 9O Mostra Infanto-juvenil de Curtas do Mercosul – Florianópolis/SC – 2005
- 1o Festival Latino Americano de Curtas Metragens de Canoa Quebrada / CE / 2005
- III Cineamazônia – Mostra Internacional de Filmes e Vídeos Ambientais / RO – 2005
- Mostra Internacional Audiovisual de Ouro Preto – 2005.
- Primeiro Plano – Festival de Cinema de Juiz de Fora / MG – 2005.
- Festival de Atibaia Internacional do Audiovisual – 2006
- Mostra do Filme Livre do Rio de Janeiro – 2006
- 1º Festival de Cinema e Vídeo da Universidade Federal de Viçosa / 2006.
- Cineme-se 2006 - Festival da Experiência do Cinema – Santos / SP
- 2ª MOSCA - Mostra Audiovisual de Cambuquira – MG – 2006
- 1º Festival de Cinema de Muriaé – 2006 / MG


Prêmio
Melhor Filme de Animação - CINE PE – Festival do Audiovisual – 2005.

O curta pode ser visto em: http://www.portacurtas.com.br/Filme.asp?Cod=3202

ARQUIVOS IMPERFEITOS


ARQUIVOS IMPERFEITOS
Dir: Sávio Leite – Documentário – DV – 10´ - MG – 2006.

Sinopse:
Os que jogaram bombas jamais foram pegos, como até hoje não foram responsabilizados os que torturaram, mataram e fizeram desaparecer opositores políticos da ditadura militar.
Helena Greco, em Minas Gerais se tornou o símbolo da luta pela anistia. Dava guarita a perseguidos políticos, organizava reuniões, fazia plantão em portas de delegacias e, desafiando o SNI embarcou para Roma, representando o Brasil no Congresso Mundial de Anistia. Aos 90 anos já não lembra de muitas coisas. Já não fala tanto. Ao menos já não fala com as palavras, porém seus olhos seguem dizendo.

Los que jugaban Bombas jamás fueron atrapados. Hasta hoy no fueron responsabilizados los torturadores, que mataron y desaparecieron opositores políticos de la dictadura militar. Helena Greco en Minas fue torturada y es el símbolo de la lucha Amnistía. Daba Guarita a los perseguidos políticos. Organizaba reuniones, hacia bloqueos en las puertas de las delegaciones y desafiaba al sistema viajando a Roma representando a Brasil en el consejo mundial de amnistía. A los 90 años ya no habla mucho pero sus ojos siguen hablando.

Seleção:
RECINE 2006 – Festival Internacional de Cinema de Arquivo – Rio de Janeiro – 2006
FEMINA – Festival Internacional de Cinema Feminino – Rio de Janeiro – 2007.
1a Muestra Internacional de Cine Y Video Documento – Bolivia – 2007.
XXXIV Jornada Internacional de Cinema da Bahia – Salvador – Brasil – 2007.
2 Muestra de Cine Y Derechos Humanos - Cine Otro - Valparaíso - Chile - 2008.
II Verão Arte Contemporânea - Belo Horizonte - Brasil - 2008.
FELCO - Festival Latino Americano da Classe Obrera - Belo Horizonte - Brasil - 2008.

AEROPORTO - Sávio Leite - 4´- DV - Animacão - cor - 2005


AEROPORTO
Sávio Leite - 4´- DV - Animacão - cor - 2005

Somos iguais nos aeroportos. Sem asas, vamos voar. O antes, o durante, o depois movimentam sonhos, dúvidas, ânsias, desejos. Ainda que revestidos por asas mecânicas nossa humanidade é checada, na turbulência. O pouso nem sempre repousa. Mas o vôo é necessário. Novos horizontes, nuvens o tempo e o vento nos acompanham e acalentam. Boa viagem.

AEROPUERTO
Sávio Leite - 4´- DV - Animación - color - 2005

Somos iguales en los aeropuertos. Sin alas, vamos a volar. El antes, el durante, el después mueven sueños, dudas, anhelos, deseos. Aunque revestidos por alas mecánicas, nuestra humanidad es chequeada, en la turbulencia. El poso ni siempre reposa. Pero el vuelo es necesario. Nuevos horizontes, nubes el tiempo y el viento nos acompañan e alientan.

AIRPORT
Sávio Leite - 4´- DV - Animation - cor - 2005

At Airport, we´re equal. Without wing´s we´ll fly. The before, the in-between, the after, moves dreams, doubts, lgings, desires. Even wrapped in mechanical wigs, our humanity es tested, in turbulence. The landing isn´t always restfull. But flight is necessary. New horizons, clouds, the time and the wind accompany and nurture us. Have a nice trip!

Seleção:
INTERNACIONAIS
- Videolab Coimbra 2005 - Mostra Internacional de Vídeo, Super 8, Instalações, workshops – Portugal
- II Festival Nacional y Muestra Internacional de Cortometrajes Cusco – 2005 – Peru
- Festival Internacional de Vídeo – FENAVID 2006 – Santa Cruz de la Sierra – Bolívia – 2006
- International Festival of Cinema and Technology – Florida – EUA 2007.
- Festival de Cine Social - La Pintana - Santiago de Chile - 2007.

NACIONAIS:
- 9º FAM - Florianópolis Audiovisual Mercosul –Florianópolis / SC – 2005 – Brasil
- XXXII Jornada Internacional de Cinema da Bahia – Brasil – 2005
-13º FESTVÍDEO DE TERESINA – PI – 2005.
- 9ª Mostra de Cinema de Tiradentes – Brasil - 2006
-Olhares – 1º Festival de Cineme e Vídeo da Universidade Federal de Viçosa / MG – 2006
- IV Mostra Minas de Cinema e Vídeo – SESC / MG
- 8º Festival Internacional de Curta Metragens de Belo Horizonte – MG – 2006.
- XXIII Festival de Cine de Bogotá – Colômbia – 2006
- IV Festival de Cinema e Vídeo Ambiental - CINEAMAZÔNIA.- Rondônia – 2006


Para assistir

MERCÚRIO – 4´- Animação - MG – 2007






MERCÚRIO – 4´- Animação - MG – 2007

Estranhos fenômenos acontecem com um rapaz numa praça de Belo Horizonte. Um homem na fronteira entre o sonho e a realidade.

Strange phenomena happen with a boy in a square in Belo Horizonte. A man in a frontier between dream and reality.

Raros fenómenos ocurren con un chico en una plaza de Belo Horizonte. Un hombre en el borde entre sueño y realidad.

Baseado no conto: "Eu quero voltar naquela praça" de Maria Thereza Torres
Direção, roteiro e montagem: Sávio Leite
Animação stop-motion: Clécius Rodrigues
Animação 2D: Adriane Puresa
Música: Skizosamba – pexbaA
Produção executiva: Alexandre Pimenta
Assistente de direção: Beatriz Goulart
Videografismo: Denis Leroy
Storyboard e desenhos: Adriano Esteves




Seleção:
- Festival de Cine Social de La Pintana - Santiago - Chile - 2007.
- 15° Festival Internacional de Cortometrajes de Santiago - Chile – 2007.
- IV Festival Internacional de Cortometrajes de Cuzco – Peru – 2007.
- 29º Festival Internacional del Nuevo Cine Latinoamericano - Havana - Cuba - 2007.
- 12º Festival Internacional de Curtas-metragens de Siena - Itália - 2007
- 48°Festival Internacional de Cine y T.V. de Cartagena - Colômbia - 2008.
- International Short Film Festival Kratkofil - Bósnia-Herzegovina - 2008 .
- IV AMBULART - Muestra de arte audiovisual - Ecuador - Alemanha - 2008
- 3º Festival Internacional del Audiovisual para la Niñez y la Adolescencia - Cubanima 2008. Havana - Cuba.
- Cameramundo Independent Film Festival – Holanda – 2008.
- FESTANIMA – Festival de Animacion del Peru – 2008.
- Alcine38 – Festival de Cine de Alcalá de Henares – Madrid – Espanha 2008.
-IV Bienal Interamericana de Vídeo Arte – Washington – USA – 2008.
- IX Festival De Cine Infantil de Guayana - Edición Iberoamericana – Venezuela – 2008.
- Festival Internacional du Film de Marrakech – 2008.
- NOVO CINE – II Muestra y Encuentro de Cine Brasileño – Madri – Espanha – 2008.
- II Festival Internacional de Animacion online- Galícia – Espanha – 2009.
- 26º Festival Internacional de Cine de Bogotá – Colômbia – 2009.




- 18° Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo – 2007
- 7º Goiânia Mostra Curtas – Brasil – 2007.
- 10º Festival de Cinema, Vídeo e DCine de Curitiba - Brasil - 2007.
- 15° Festival Internacional de Curtas metragens do Rio de Janeiro – Brasil – 2007.
- 3ª Mostra de Cinema de Vitória da Conquista – Brasil – 2007.
- II Mostra do Curta Fantástico de Ilha Comprida – SP – Brasil - 2007.
- 4º Amazonas Film Festival – AM – Brasil – 2007.
- PRIMEIRO PLANO - Festival de Cinema de Juiz de Fora - MG - Brasil - 2007.
- XI Festival Nacional de Vídeo - Imagem em 5 minutos - Salvador - Brasil - 2007.
- 7ª Mostra do Filme Livre - Rio de Janeiro - Brasil - 2008
- BAIXADA ANIMADA - 3ª Mostra de Cinema de Animação da Baixada Fluminense - Rio de Janeiro - Brasil - 2008
- 3a Mostra De Cinema De Ouro Preto – Minas Gerais – Brasil – 2008.
- Cinesul – 15° Festival Ibero-Americano de cinema e vídeo – Rio de Janeiro – Brasil – 2008.
- 15° Festival de cinema e vídeo de Cuiabá – Brasil - 2008.
- IV Mostra Minas de Cinema e Vídeo – Belo Horizonte – Brasil – 2008.
- 8a Mostra Taguatinga de Cinema e Vídeo – DF – Brasil – 2008.
-10° Festival Internacional de curtas de Belo Horizonte – MG – 2008.
-TRASH 4a Mostra de Cinema Independente – Goiânia – Brasil – 2008.
-Cine Esquema Novo – Festival de Cinema de Porto Alegre – Brasil – 208.
-FESTCINE AMAZONIA – RO – Brasil – 2008.




CRÍTICAS:

Mercúrio, de Sávio Leite, 4 min, miniDV, 2007

Confesso que consigo falar pouco de Mercúrio. Sessão de curta-metragem é isso, né? Você acaba de sair da serenidade de Outubro e sua trilha sonora no pianinho, pra entrar na loucura da animação com “câmera na mão” de Sávio Leite, com uma trilha sonora, digamos, ribombante (ou só bombante mesmo?)

Mercúrio é um filme frenético, desde o primeiro segundo. É um filme essencialmente fragmentado, esse sim: cada frame da animação foge do enquadramento do outro, dando essa impressão, nauseante em alguns momentos, de uma animação feita com a câmera na mão mesmo. Há também inúmeras quebras de luz. Há ainda uma falta de ritmo no todo, que pouco se permite uma absorção, fora uma série de supostas sensações que se pretendem passar. Esse fragmentos de sensações, desesperos, idéias, sonhos e pesadelos, típicas influências de David Lynch, tendem muito ser realizadas muito fora do alcance que Lynch atinge em seus filmes. Já vi uma série de curtas que trabalham signos, repetição, mistério e pesadelo de maneira talvez ingênua, talvez preguiçosa. Creio até que eu mesmo já tenha sofrido isso lá nos idos anos de 2005 com Os Memorialistas. Essa fronteira entre o sonho e realidade é mais difícil de se explorar do que parece. Mas sobre a (má) influência de Lynch sobre nossa geração de curta-metragistas falo no texto sobre Pela Metade. Aqui, como disse, falo pouco.

http://www.revistamoviola.com/2007/11/02/mercurio/

EU SOU COMO O POLVO - Experimental – 5´- MG - 2006 - Brasil






EU SOU COMO O POLVO
Experimental – 5´- MG - 2006 - Brasil
Sinopse:
Um pouco da memória de Lourenço Mutarelli, considerado um dos melhores desenhistas brasileiros da atualidade.

I am like the octopus
A little bit of Lorenço Mutarelli´s memory, considered one of the best drawers in Brazil nowadays.

Yo soy como el Pulpo
Un poco de la memoria de Lourenço Mutarelli, considerado uno de los más grandes dibujantes brasileños de la actualidad.

Je suis comme le Poulpe
Un extrait de l avie de Lourenço Mutarelli, considerée um de plus important dessinateur brésilien dans l´actualité.

Direção: Sávio Leite
Assistente de direção: Phillipe Ratton
Produção Executiva: Alexandre Pimenta
Assistente de produção: Helenice Pereira
Texto e narração: Lourenço Mutarelli
Música: Ala z – pexbaA




SELEÇÃO
- III Bienal Interamericana de Vídeo Arte – Washington 2006 / Roma 2007
- 2º Festival Internacional El Ojo Cojo – Madrid – Espanha – 2006.
-III Festival Internacional de Cortometrajes de Cusco – Peru – 2006
- 5º Festival Internacional de Cine Digital – Viña Del Mar – Chile – 2007.
- Ambulart 2007 – Muestra de Arte Audiovisual – Ecuador / Alemanha.
- Festival de Cine Social de La Pintana - Santiago de Chile – 2007
- Festival for Contemporary Art - Varna - Bulgaria - 2007
- BRASILANDSCHAFT - kurz gesehen - Berlim - Alemanha -2007.
- Festival Internacional de Cortometrajes Oberá en Cortos - Missiones - Argentina - 2007.
- BRASIL NOAR – 7º Festival Internacional da Nova Arte Brasileira – Barcelona – Espanha – 2007.
- CORTOCIRCUITO - IV Festival Internacional de Cortometrajes de Santiago de Compostela - Espanha – 2007
- 19° Festival Internacional de Cine de Viña Del Mar – Chile – 2007.
- Festival de Cinema de Arouca – Portugal – 2007.
- 3° Festival de Cine San Juan de Pasto – Colômbia – 2007.
- III Muestra Internacional de Cortometrajes Cine a la calle al aire libre – Barranquila – Colômbia – 2007.
- Mostra Brasileira de Cinema Independente na França - 2008



- XXXIII Jornada Internacional de Cinema da Bahia – Brasil – 2006
- 17º Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo – Brasil – 2006.
- 6º Goiânia Mostra Curtas – Brasil – 2006.
- 3º Amazonas Film Festival – 2006 – Brasil
- CURTA CINEMA - 14º Festival Internacional de Curtas Metragens do Rio de Janeiro. 2006 . Brasil
- Mostra Internacional Audiovisual de Ouro Preto – Imagem dos povos – 2006 – Brasil
- XIV Festival de Vídeo de Teresina – PI – 2006 – Brasil
- 10ª Mostra de cinema de Tiradentes – MG – 2007.
- Mostra do Filme Livre – Rio de Janeiro – 2007.
-11º CINE PE - Festival do Audiovisual de Recife – Brasil – 2007.
- 3 CINEPORT - Festival de Cinema de Países de Língua Portuguesa - Brasil - 2007
- V Mostra Minas de Cinema e Vídeo – Belo Horizonte - 2007.
- 1ª Mostra Curtas Cariri Plus Experimental - CE - Brasil - 2007.
- CineEsquemaNovo 2007 – Festival de Cinema de Porto Alegre. Brasil
- 2ª Mostra de Cinema de Ouro Preto - Brasil - 2007.
- 9° Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte - Brasil 2007.
- Mosca 3 - Mostra do Audiovisual de Cambuquira - Brasil - 2007.
- 15° Gramado Cine Vídeo - Brasil - 2007.
- 2º Festival Circulante de curtas metragens - Cajamar - SP - Brasil. 2007.
- Festival Curta Cabo Frio – Rio de Janeiro – Brasil - 2007
- 6° Festival de Cinema de Varginha – MG – Brasil – 2007
- 5° Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte – MG – Brasil – 2007.
- Videofestival São Carlos – SP – Brasil – 2007.
- Vitória Cine Vídeo – ES – Brasil – 2007.
- Iguacine – 1° Festival de Cinema da Cidade de Nova Iguaçu - Rio de Janeiro - 2008.





Prêmios:
- Menção Honrosa - - III Bienal Interamericana de Vídeo Arte – Washington –2006
- Menção Honrosa - 3º Amazonas Film Festival – 2006 – Brasil
- Melhor Vídeo Experimental - XIV Festival de Vídeo de Teresina – 2006 - Brasil
- Menção Honrosa - V Mostra Minas de Cinema e Vídeo – Belo Horizonte - 2007. Brasil.
- Prêmio de Experimentação Técnica em desenho - Cine Esquema Novo - Festival de Cinema de Porto Alegre - 2007.


CRÍTICAS:

Eu sou como o polvo, de Sávio Leite, 4 min, 2006

Sávio Leite, animador e confesso admirador de Lourenço Mutarelli, é o realizador deste pequeno e belíssimo Eu sou como o polvo.

O curta, a exemplo do clássico O Mistério de Picasso, de Henri-Georges Clouzot, enquadra Lourenço Mutarelli sob uma mesa de vidro e observa o criador desenhando. São desenhos grotescos, auto-caricaturas de pouca compaixão.

Em off, um texto do próprio Mutarelli, poético e autodestrutivo. No texto ele fala sobre sua aceitação no mundo, que veio apenas a partir de seus desenhos; sua infância e juventude complicadas. Nos auto-retratos do filme, vê-se um artista com pernas a sair dos ouvidos, uma mutação, uma auto-apreciação.

Observar de perto a criação de um desenhista é como o desnudar. É surpreender o outro sem roupas ao sair do chuveiro. Não é à toa que Sávio Leite colocou o próprio Mutarelli para falar tão francamente de si. Em Eu sou como o polvo, o desenhista se desnuda em arte e em vida.

Lourenço Mutarelli é quadrinista, mas ganhou mais notoriedade após Heitor Dhalia adaptar para cinema o seu romance de estréia, O Cheiro do Ralo. Mutarelli já havia trabalhado com Dhalia em Nina, traçando os desenhos que a personagem central criava.

http://www.revistamoviola.com/2008/03/04/eu-sou-como-o-polvo/


“Eu sou como o polvo”
por Ursula Rösele


Eis que de maneira discreta Sávio Leite “explica” o motivo pelo qual Lourenço Mutarelli - protagonista de seu curta - é como o polvo. Juntamente ao título do filme, uma pequena inscrição diz que antigamente acreditava-se que do líquido dos polvos se fazia o nanquim.

Em apenas cinco minutos, num contra-plongée de Mutarelli desenhando sobre a mesa, somos ‘apresentados’ aos motivos pelos quais ele começou a desenhar e a escrever.

Mutarelli é o autor do livro “O Cheiro do Ralo”, transformado em filme atualmente por Heitor Dhalia. Além disso, ganhou diversos prêmios de história em quadrinhos com seus desenhos. Dono de uma personalidade peculiar, um pouco autista e bastante depressivo, Mutarelli descreve parte de suas características anti-sociais enquanto desenha dois auto-retratos, um com dois olhos e algo saindo de suas orelhas e outro com apenas um olho. Descreve-se verbalmente e desenha uma espécie de mutação de si para um animal, que – por que não? – haveria de ser um polvo.

Eu sou como o polvo é curto e com traços finos. É o olhar curioso daquele que conseguiu tirar algumas palavras do homem/molusco que, se tem algo a dizer, certamente o fará através de seus traços e escritos. Dali não há muito a ser descoberto... apenas vislumbrado.

Critica Competitiva brasileira 1 - 9 Festival Internacional de Curtas metragens de Belo Horizonte - 2007.


Eu sou como um polvo - puta que o pariu, o Sávio Leite é mais conhecido por suas animações mas quando ele filma imagens ele demonstra um talento muito maior. Ano passado eu já tinha visto uma videodança filmada por ele, que vai além do registro para buscar um sentimento do espaço em torno e não só do corpo, e ao mesmo tempo um respeito pela observação da coereografia que me fascinaram (a videodança vira um filme sobre o olhar). Mas este Eu sou um polvo é uma pérola, uma grande surpresa, um filme caseiro simples, surpreendente pela sua enorme objetividade e singeleza.Lourenço Mutarelli (o quadrinista, agora escritor) fala do que representa a arte para ele. É um filme sobre o processo de criação. Como em Os mistérios de Picasso, Mutarelli traça. Enquanto traça, e ouvimos uma voz-over extremamente pessoal desconcertante, Sávio Leite também traça, de forma invisível com sua câmera caneta, mas de forma discreta, observando, dando esse tempo. Esse curta é maravilhoso. Sem ser uma autobiografia oficialesca, coloca o autor no processo de criação, e como isso está intimamente relacionado com a vida. E Leite, de forma simples, observa, mas com uma acuidade quase oriental. Esse filme eu vi umas três vezes seguidas e me impressionou muito. Até porque eu tenho a mesma relação com o processo de criação do que o Mutarelli.

http://cinecasulofilia.blogspot.com/



domingo, 27 de agosto de 2006.

Lulas – parte 2

E deu que essa fedentina toda calhou como uma luva com a programação deste domingo do Unibanco Arteplex, em São Paulo. Dentro do Festival Internacional de curtas-metragens, em pleno vapor até dia 2 de setembro, a sala paulistana exibe às 18h e às 22h “Eu sou como o polvo”, do diretor Sávio Leite e baseado no trabalho de Mutarelli. Dono de um dos traços mais exuberantes entre os desenhistas brasileiros, o desenhista prepara o terreno para a estréia de 'Cheiro do Ralo', a transposição conduzida por Heitor Dhalia, estrelada por Selton Mello, do livro homônimo de 2002.

Vai lá:
“Eu sou como o polvo”
Unibanco Arteplex (Shopping Frei Caneca – r. Frei Caneca, 569, 3o piso, sala 5)
Às 18h e às 22h
100 lugares
Entrada gratuita
Informações no www.kinoforum.org.br

revistatrip.uol.com.br/blog/index.php?ano=2006-08&log_id=8 - 27k


Transubstanciando-se
Para o Blog do Festival Internacional de curtas-metragens, por Thomas Marques Silva.

Uma mesa de vidro, uma câmera na mão e um artista genial. Esse é o mote de Eu sou como o polvo, um documentário experimental sobre um dos maiores artistas brasileiros da atualidade. A câmera é do diretor mineiro Sávio Leite, o vidro é o suporte para um auto-retrato e o artista genial é Lourenço Mutarelli. Assim, durante cinco minutos, presenciamos o artista em seu processo criativo, desenhando-se no papel enquanto destila na tela um pouco da matéria que o constitui através de um texto belíssimo, recheado da poesia “deslocada” que caracteriza sua obra.

Lourenço quem?! Lourenço Mutarelli, quadrinista e romancista, dono de algumas das maiores obras publicadas no Brasil nos últimos quinze anos e, conseqüentemente, de alguns dos maiores prêmios em suas categorias, como o HQ MIX (diversas vezes) e o de melhor história em quadrinhos do milênio (para a genial Transubstanciação), ou ainda O Cheiro do Ralo, seu romance de estréia, levado às telas pelo diretor Heitor Dhalia.

Sávio Leite definiu seu filme como a expressão da “necessidade de fazer alguma coisa com o Lourenço”, de quem é fã confesso. Desse modo, a experimentalidade de sua obra se torna inescapável, quase determinada, definida por sua falta de experiência com “outra coisa que não seja a animação”, este sim, um terreno pelo qual transita com mais naturalidade.
Mas isso não é tão importante perto da magnitude de um artista como Muttareli. O filme se sustentaria somente por aquilo a que se propõe retratar: um processo criativo. Mesmo para aqueles que conhecem seu trabalho depois de pronto, Eu sou como o polvo não deixa de surpreender ao mostrar um outro Mutarelli, aquele calmo, tranqüilo, com fones nos ouvidos, distribuindo traços numa folha felizarda de papel, desenhando um de seus personagens mais caros, por ser real: o próprio Lourenço Mutarelli.

Eu sou como o polvo faz parte do Programa Curta o formato 2
http://www.kinoforum.org/

De: Agusti - Data: 16/07/07 17:21
Assunto: FW: Artículo en Argentina sobre la Bienal de Video del CCN BID: Un panorama del videoarte

Un panorama del videoarte - Argentina - 15/07/2007 - Perfil.com - Pág. //


En el primer párrafo de La tumba sin sosiego, de 1944, el ensayista inglés Cyril Connolly escribe: "Cuantos más libros leemos, mejor advertimos que la función genuina de un escritor es producir una obra maestra y que ninguna otra finalidad tiene la menor importancia". Connolly es un extraordinario ensayista, entre irónico y melancólico, autor también de otro libro fundamental, Enemigos de la promesa, publicado unos años antes, y de un par de artículos sobre la bibliofilia que deberían ser de lectura obligatoria para cualquier amante de los libros. Pero volviendo al comienzo, la frase en cuestión siempre me intrigó. Supongo que no por las razones más evidentes (cierto elitismo aristocratizante, que tampoco tiene la menor importancia), sino por el carácter tan literario del asunto. Connolly sólo habla de literatura y de escritores. ¿Puede decirse algo parecido sobre otras artes?
Pensaba en esto a propósito de la muestra del videoartista catalán Muntadas, que en estos días se expone en la Fundación Telefónica y en el Centro Cultural de España en Buenos Aires. Alternando entre el afiche, el video y la fotografía, las obras me parecieron irrelevantes, tan triviales que por un momento las confundí con afiches de la campaña de Telerman (luego recordé que la campaña ya había terminado). Pero más allá de este contratiempo, el videoarte es una disciplina que ya tiene una larga historia y muchas cosas
todavía por decir. Y que al menos, dio dos grandes artistas (artistas maestros en el sentido de Connolly) que no tienen nada que envidiarles a los grandes pintores o cineastas del siglo XX: el coreano Nam June Paik, y el norteamericano Bill Viola. Cercano al grupo Fluxus y a Stokhausen, Paik es poco menos que el inventor del videoarte y probablemente quien más lejos llegó en su afán de experimentación. La de Viola es una obra que introduce lo audiovisual en un terreno claramente intelectual: una reflexión radical sobre la relación entre acontecimiento y temporalidad.

Hay ahora en Buenos Aires una buena oportunidad para ver un panorama de la producción latinoamericana reciente. En el Foro Estudios Culturales Argentinos (FECA), se exhiben las obras ganadoras de la Tercera Bienal Interamericana de Videoarte del centro cultural del BID. Como suele suceder con la literatura, los ganadores del concurso son menos interesantes que los que sólo obtuvieron mención, o los que directamente no ganaron nada (cada día me convenzo más de que hay que felicitar a los artistas que no ganan concursos, precisamente por eso, por no haber ganado). Pero una de las menciones del jurado es un video perfecto: Soy como un pulpo, del brasileño Sávio Leite, donde rinde homenaje a Lourenco Mutarelli, uno de los grandes ilustradores brasileños, lamentablemente muy poco conocido entre nosotros. Vale la pena ir al FECA sólo para ver ese video.

Cierta vez le preguntaron al crítico francés Jean-Paul Fargier cuál es la diferencia entre el cine y el videoarte, y respondió: "Mientras que en el cine se dice: 'Silencio, se rueda'; en el video se dice: 'Ruido, se edita'". Es precisamente esa dimensión ruidosa, desplazada, sucia e inacabada, lo que vuelve interesante al videoarte. O mejor dicho: es lo que vuelve interesante a cualquier arte.

EU SOU COMO O POLVOIndicado para:Curta Livre - Filmes de até 15 minutos e sem apoio estatal.
“Para quem ainda não sabe, Lourenço Mutarelli é um dos principais artistas brasileiros vivos. Primeiramente, se destacou nos quadrinhos underground: sendo contemporâneo de gente como Angeli, Laerte, Glauco, etc, não teve o reconhecimento imediato, talvez devido a sua seriedade e aos temas mórbidos que costuma tratar. Porém, seu traço cruel, uma espécie de Expressionismo da era do Grafite, aliado a histórias onde o grotesco toca quase literalmente em chagas do cotidiano, começou a lhe render prêmios e prêmios e uma guinada para a literatura. A ponto de já ter um livro adaptado para o longa-metragem, o excelente "O Cheiro do Ralo", onde, para a surpresa de todos, revelou-se até mesmo um bom ator. E fazendo papel de segurança (detalhe: Mutarelli é franzino, baixinho e careca). Retratar um personagem como Mutarelli já é meio caminho andado para tornar qualquer documentário, no mínimo, interessante. Mas o mineiro Sávio Leite teve a sacação de deixar seu filme à altura do seu "personagem". Se valendo de um recurso usado por Henri-Georges Clouzot, no filme "O Mistério Picasso", "Eu sou como o Polvo" utiliza um plano-seqüência em alta velocidade, mostrando o próprio Mutarelli desenhando dois bizarros auto-retratos. Em off, um texto autobiográfico lido pelo próprio artista, de onde desabafa seu passado complicado e o quanto o desenho foi a sua salvação. Daí o título do curta, já que o polvo se vale da tinta para se esconder. (Christian Caselli)”


O curta pode ser visto em: http://www.curtaocurta.com.br/curta/361/