PLANO SEQUENCIA
Série Cena Mineira – Mostra Panorama: Mulher-bomba, Moto.continuo, Narcolepsia, Bifurcation, Marisqueiras de Cabuçu, Kombucha, Polis e Bala na Cabeça
por Gabriel Martins
Encontramos hoje em destaque no cinema mineiro de curtas-metragens (e talvez de longas também) basicamente dois pontos, ou propostas, distantes. Um, segue um rumo mais próximo à pesquisa de linguagem, explorando vertentes como a vídeo-arte, vídeo-instalação e documentário experimental – se é que estas atribuições ainda fazem algum sentido. Na sessão Série Cena Mineira este “grupo” estava representado por Mulher-bomba, Moto.contínuo, Bifurcation, Marisqueiras do Cabuçu e Kombucha. O outro ponto seriam os filmes mais narrativos, propostas ficcionais engendradas por seus roteiros. Na sessão estavam representados por Narcolepsia e Bala na Cabeça. Polis, por mais que esteja mais próximo do primeiro grupo, é uma espécie de caso à parte na sessão (algo a ser discutido posteriormente no texto). Aos filmes:
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No cinema isso provavelmente se reflete na relação de composição de imagem, ela como individual e além da construção de sentido contínuo de cinema clássico. Vale dizer, entretanto, que existe, mesmo sendo uma provocação, certo esgotamento deste tipo de proposta no cenário atual. Talvez após um grande número de estratégias próximas a estas nos últimos anos o cinema peça hoje algo além, algo novo, talvez um próximo processo difícil de dizer, no momento, qual é – resta descobri-lo.
Embarca um pouco nesta vertente o filme de Sávio Leite, ainda que resguarde mais valores do documentário e da imagem enquanto experiência passageira de seu autor. Infelizmente o filme perde na sua curta duração e na estratégia de obscurecer parte do quadro, efeito que parece meio deslocado enquanto tentativa de afirmação de algo. Parece-me pouco o tempo de processamento de imagens, o que deixa um vazio na soma da experiência desse filme que, diferente de outros do próprio diretor, não transmite emoções nem no processo de construção e nem na própria imagem, no registro daquelas situações. Um surto, que soa como um grande condensamento de idéias e registros que talvez fossem mais interessantes com um tratamento – e isso não quer dizer ritmo - mais calmo.
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De um lado, liberdade técnica e plástica, observação do mundo e, por vezes, alguns esgotamentos de proposta. De outro, projetos enterrados dentro de paradigmas que pouco flertam com um prazer de filmar o real, mas que tem grande comunicação com o público. Onde estaria o meio termo?
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Este é o nosso panorama, um espécime do que Minas parece ter a oferecer no agora. Nosso cinema, caminhando, certamente ainda está longe do que pode ser. Temos cineastas interessantes, muitas coisas acontecendo e um cenário crescente que promete persistir nos diversos circuitos. Resta nos olhar mais, nos pensar mais e ver uma possibilidade de ultrapassar paradigmas que talvez estejamos criando em alguns nichos, e isso vale para os dois grupos. Este panorama talvez não demonstre nem um terço do que aconteceu de melhor no cinema mineiros nos últimos tempos, mas certamente diagnostica muita coisa a se pensar. Pensemos pois, rumo a um contexto menos individual e mais colaborativo.
*Vistos na 13ª Mostra de Cinema de Tiradentes
Filmes Citados:
Mulher-Bomba (idem, 2009/ Igor Amin)
Moto.continuo (idem, 2009/ Marcelo Braga e Eduardo Zunza)
Narcolepsia (idem, 2009/ Wilfried Amaral Weissmann)
Bifurcation (idem, 2009/ Alexandre Milagres)
Marisqueiras de Cabuçu (idem, 2010/ Gabriel Sanna)
Kombucha (idem, 2009/ Sávio Leite)
Polis (idem, 2009/ Marcos Pimentel)
Bala na Cabeça (idem, 2009/ Cristiano Abud)
O texto inteiro pode ser lido em: http://www.filmespolvo.com.br/site/artigos/plano_sequencia/910
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