sábado, 5 de novembro de 2011

SPACE DUST - NESSA RUA TEM UM RIO - UNDIÓ













Uma textura forte que as vezes parece ser aspera e o fluxo do seu movimento da vontade de tocar não a tela mais a matéria
Zaika dos Santos.

Pode um filme de 2 minutos abarcar uma complexidade de anos e de historia de uma casa em uma determinada era? A poeira como partículas soltas dançando no espaço traz-nos lembranças e recordações. A arte tem o poder de subjetivamente interferir no cotidiano, modificando-o. A sujeira de determinado local pode conter mais informações do que aparentemente possa passar despercebido.

As partículas parecem terem sido criadas para não serem vistas. Quando conseguem ser vistas manifestam-se como epifanias, estados iluminados, verdadeiros e mínimos espetáculos para a retina. A maioria precisa de sofisticados instrumentos para ser vista, escondendo-se do olho nu. As partículas de poeira são mais comumente observadas, mas só se manifestam em estado de contemplação. Partículas de poeira podem esconder um esplendor de uma história de vida, mas só se tornam notáveis graças à presença da luz. Geralmente da luz do sol. Já o sol geralmente é observado por uma luz dourada.

O cinema, abrangendo todas as suas variáveis, sempre usou da prata para a fixação das imagens. A prata parece dar um grau de sobriedade e de esplendor, típico das manifestações metafísicas de nobreza de cotidiano. Um artista como Andy Warhol acreditava no poder do cinema como fixação de um cotidiano esplendoroso e explosivo em que vivia . Sua vida e obra são consideradas por muitos um reflexo das tensões e contradições que construíram e caracterizaram a imagem pública dos Estados Unidos, ao longo do século XX. Muitas vezes, só a repetição de um ato, como filmar um beijo, um sono ou um monumento, em si só, contemplava toda uma manifestação epifânica. Uma documentação, um registro do mundo particularizado em que vivia. O prateado atraiu sensivelmente a atenção de Andy Warhol ao ponto de, em seu famoso estúdio de produção, a Factory (Fábrica), as paredes serem completamente revestidas de papel prateado. Nas palavras do artista, "Prata era o futuro... era o espacial... prata era também o passado - a tela prateada... e talvez mais do que qualquer coisa, prata era o narcisismo".

A maioria dos seus filmes são exibidos hoje em um museu que leva o seu nome, em sua cidade natal, Pittsburgh, em uma superfície prata. Esse dispositivo permite a criação de uma aura em torno desse registro. Não que os filmes precisem disso para serem apreciados, mas, de certo modo, a superfície prata os envolve e restaura a prata perdida pelo filme, quando se descobriu que essa mesma prata criava combustão espontânea.

Space Dust registra, documenta e aponta para outro dispositivo. Recupera um momento de epifania, que resgata uma memória cotidiana da luz do sol pela fresta de uma janela (que poderia estar em qualquer lugar e ser qualquer uma) e lhe dá a dignidade de pertencer ao seleto mundo das artes, usando e dialogando com outros autores, sendo projetado em fundo prata, que lhe dá a sensação de acolhimento e segurança, como a segurança e o bem estar de estar próximo a um amigo. Não que ele precise necessariamente disso para ser apreciado também.

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Pensei um rio rompendo o asfalto em plena manhã de sábado, invadindo com suas partículas de água e lambuzando a surpresa dos passantes desavisados.
O respiradouro central da rua antiga e performática foi violentamente alargado pelo furor das águas que espumavam na sua liquidez rebelde craquelando o asfalto.
As gotículas agrupadas eram o mar no movimento irrefreado de ondas densas e regulares passeando cronometricamente para lá da Augusto de Lima... para cá da Amazonas...
As águas do Leitão varreram ruidosas as infinitas bolhas de poeira da rua boêmia.
O senhor distinto em seu pijama sorria levemente com o queixo recostado na vassoura, sem importar com as meias encharcadas dentro dos chinelos.
O rio entubado rebelou-se com o tratamento prisional!
Cristina C.M. Gama

SPACE DUST- Sávio Leite – Experimental / Video-arte – 2’30”- 2011
Música: Space Dust – Fabiano Fonseca
Uma imensidão intima.

Seleção:
8º Festival Internacional de Cortometrajes y Escuelas de Cine – El Espejo – Colômbia- 2011.

O CURTA PODE SER ACESSADO EM: http://www.youtube.com/watch?v=gjClqXt5n7E

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